São Paulo, sexta-feira, 5 de setembro de 1997
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Casa projetada por Niemeyer corre perigo

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma casa projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, localizada no bairro carioca de Botafogo (r. Eduardo Guinle, nº 55), corre o risco de ser demolida.
A demolição já começou, mas foi interrompida graças à mobilização dos moradores do bairro e a uma liminar expedida por um juiz da 5ª Vara de Fazenda Pública, no Rio.
Em seu lugar, a construtora Agenco pretende construir um edifício residencial de 12 andares. A empresa já possui um terreno ao lado, o que viabiliza o projeto. Também agiu estritamente de acordo com a lei. Verificou se a casa não estava em processo de tombamento (não estava), entrou com pedido de licença para demolição (concedido pela Secretaria Municipal de Urbanismo do Rio) e iniciou os trabalhos.
A demolição foi interrompida pela Associação de Moradores e Amigos de Botafogo, que entrou com pedido de cancelamento da licença de demolição e que agora corre atrás de seu tombamento.
O movimento é encabeçado pelo arquiteto João Augusto de Macedo Jr., morador da mesma rua Eduardo Guinle. Um abaixo-assinado pelo tombamento do imóvel já está correndo e conta com assinaturas do arquiteto Sérgio Bernardes e do urbanista Lúcio Costa.
Segundo Macedo Jr., o processo de demolição ainda pode ser revertido. "A casa ainda pode ser restaurada. Pretendemos transformá-la na Fundação da Arquitetura Brasileira, um espaço destinado a pesquisas sobre arquitetura brasileira", disse.
Sabino Barroso, diretor do Departamento de Proteção do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), também acredita que o imóvel possa ser restaurado. "Qualquer obra recente tem total possibilidade de reconstrução. As técnicas de construção são atuais", disse.
Barroso disse ainda que o Iphan vai designar um grupo de trabalho para tombar todo o conjunto da obra de Niemeyer, que inclui a casa em Botafogo.
'Uma obra de Niemeyer é importante em qualquer cidade do mundo. É como Barcelona demolir uma obra de Gaudí", disse, referindo-se ao arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926).
Este não é o primeiro imóvel de Niemeyer que é demolido. O próprio arquiteto elencou alguns deles em artigo em que lamenta a demolição, publicado no "Jornal do Brasil" de 25 de agosto. Lembrou-se da fábrica de biscoitos Duchen (na rodovia Presidente Dutra), de uma escola em Belo Horizonte e de uma residência em Laranjeiras (zona sul do Rio).
A casa foi projetada por Niemeyer em 1969 para um amigo, o advogado Frederico Augusto Gomes. O arquiteto não cobrou pelo projeto, que teve de se adequar às dimensões reduzidas do terreno: 12m x 30m. A casa é toda voltada para dentro, em torno de uma piscina circular, e não para fora, em direção aos jardins.
Niemeyer projetou-a em três pavimentos. No subsolo, estão garagens e áreas de serviço; no térreo, estão a piscina, salas, dois quartos, cozinha e um jardim coberto; no primeiro andar, há um jardim descoberto, uma sala e ainda três quartos.
Os três pavimentos são ligados por uma escada helicoidal (que se desenvolve na forma de uma hélice em torno de um mastro).
A casa tinha ainda uma caixa d'água em forma cilíndrica, que já foi demolida. Possui ainda um painel de azulejos pintados à mão pelo artista Athos Bulcão e vista para o Cristo Redentor.
O imóvel já foi motivo de artigos em livros, jornais e revistas, como a francesa "L'Architecture d'Aujourd'hui".
(CF)

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