São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
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Outro funeral

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Em 94, a desculpa era boa. Afinal, o sujeito era o herói nacional. Hoje, porém, não existe isso. Ligaremos a TV por morbidez, curiosidade, para ver quem conseguiu ser chique e manter a sobriedade ou para perceber as gafes.
A transmissão via satélite, a Internet e todas as baboseiras que são vendidas como o futuro e que idiotamente compramos para mantermos pretensamente modernos precisam de atrativos para se justificarem.
Guerras, perseguições policiais, peitos e bundas, bombas em Jerusalém ou funerais. Tanto faz. Basta algo que satisfaça, que preencha nossa existência cada vez mais medíocre. O Aqui Agora é a mesma coisa que a CNN. Apenas mais baixo.
A própria F-1 produz muito mais notícia fora da pista do que dentro dela.
Sejam os contratos milionários ou as prosaicas partidas de futebol de Schumacher na quinta divisão da Suíça.
Mesmo na Itália, berço da Ferrari e de boa parte da mítica do automobilismo, os organizadores se esforçam para abrilhantar o evento.
De Dennis Rodman a Demmi Moore, passando por Bruce Willis, Silvester Stallone, Eros Ramazzotti, Fabio Capello e metade do time do Milan, sem falar em Ronaldinho, que ainda não está confirmado, vai aparecer de tudo, amanhã, em Monza.
Creia, nenhum deles ajudou a esgotar os 220 mil ingressos colocados à venda, novo recorde para o autódromo. Mas só isso, o simples interesse do público, não parece mais suficiente.
É necessário chamar a atenção, criar o tal do impacto -fazer o sujeito ligar a TV, comprar o jornal, ouvir o rádio, conectar-se à rede.
E como não é possível fazer uma corrida a cada duas horas ou explodir um carro-bomba por dia, temos que inventar.
Ou transformar o cotidiano em história. E esquecer que a verdadeira história está em curso e, nós, afundando.

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