São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
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Teresa de Calcutá e Diana de Gales

FREI BETTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Duas princesas se encontram no céu: madre Teresa de Calcutá e Diana. Esta, bonita por fora; aquela, bonita por dentro. As duas, dedicadas aos mais sofridos, aos deserdados dessa era neoliberal cuja pirâmide da exclusão social ostenta, como troféu macabro, o desemprego, a fome, a doença crônica.
Diana não teve vida privada. As câmeras invadiram cada espaço de seus passos. Teresa privou-se do conforto: freira de uma congregação tradicional, deixou o cuidado de meninas da elite e, sensibilizada pela miséria reinante em Calcutá, consagrou-se aos mais pobres.
Teresa questiona, com seu testemunho de desprendimento, toda a nossa ânsia de segurança e nosso medo de ser solidários. No oprimido, ela identificava o rosto de Jesus, conforme o capítulo 25 de Mateus: "Tive fome e você me deu o que comer; tive sede e você me deu o que beber; estive oprimido e você me libertou..."
Diana simboliza as nossas fantasias, o sonho de um paraíso na Terra. Teresa, o nosso eu mais profundo. Esse desafio que trazemos no âmago do coração -ser o que somos, sem o risco de ter que repetir esta expressão de Fernando Pessoa: "Fui o que não sou".
Diana era nobre do reino britânico. Teresa viveu obcecada por outro reino: o de Deus. Não fazia dele um consolo aos mais pobres. Como Jesus, queria que todos tivessem vida nesta vida. A vida é o dom maior de Deus. E o maior pecado é a desigualdade que priva injustamente contingentes e continentes do acesso aos bens elementares à vida.
Teresa confiou na força da oração. Diana, na sedução. Ambas sintetizam essa expressão do escritor cubano Onelio Cardozo: "No ser humano há duas grandes fomes: a de pão e a de beleza. A primeira é saciável; a segunda, infindável".

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