São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

D. Paulo vê na madre 'santa do século 20'

EMANUEL NERI

EMANUEL NERI; MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Processo só pode começar daqui a cinco anos e exige a comprovação de dois milagres posteriores à morte

MARCELO MUSA CAVALLARI
O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, disse ontem que madre Teresa de Calcutá foi uma santa.
"Uma santa do século 20, a santa mais evidente e de uma atividade permanente a serviço das pessoas mais necessitadas em todas as partes do mundo", afirmou em entrevista coletiva convocada para comentar a morte de madre Teresa.
Assim como dom Paulo, muita gente via madre Teresa como santa, já durante sua vida.
No cristianismo antigo e na Idade Média, isso bastaria para que ela já fosse santa. No catolicismo atual, e isso vale desde a Renascença, será necessário um longo processo para que madre Teresa venha um dia a se tornar santa.
As normas prevêem que o bispo da diocese pode pedir a abertura de um processo de canonização para uma pessoa que ganhou "reputação de santidade" -termo técnico usado pela igreja- entre a comunidade local. Isso, madre Teresa já tem. Até mesmo muito além de sua comunidade local.
Mesmo assim, isso só poderá ocorrer depois de cinco anos da morte de madre Teresa.
Assim que se instaura o processo, a pessoa passa a ser conhecida como "serva de Deus". É nomeado um postulador, que será o responsável por recolher informações acerca da candidata.
É preciso provar que ela exerceu as "virtudes cristãs em grau heróico", como diz a linguagem técnica da igreja. Todas as informações são enviadas à Sagrada Congregação para a Causa do Santos no Vaticano, onde é nomeado um relator para o caso.
É preciso ainda que ocorram dois milagres reconhecidos, atribuídos a madre Teresa depois de sua morte para que ela possa, um dia, ser celebrada em altares do mundo todo. Antes da canonização, um candidato a santo é beatificado. Nesse estágio, ele pode ser venerado em altares das dioceses em que nasceu, viveu ou morreu.
É o caso do beato José de Anchieta. Pode haver altares ou igrejas dedicadas a ele nas ilhas Canárias, onde nasceu, e nas cidades da Espanha e do Brasil onde esteve.
A canonização de madre Teresa provavelmente conta com o apoio do papa João Paulo 2º. Ela representa o tipo de aproximação tradicional do catolicismo que o papa tem tentado fortalecer desde o início de seu pontificado.
Além disso, madre Teresa mostrou uma grande capacidade de adaptação ao lugar e ao tempo em que agiu, sem se afastar da ortodoxia católica.
A igreja sempre pôde contar com madre Teresa para defender a proibição do uso de controles artificiais da fertilidade e para condenar o aborto, por exemplo. Mesmo atuando durante quase 50 anos em uma cidade miserável e superpovoada como Calcutá.
Para a Igreja Católica, segundo d. Paulo, Teresa de Calcutá representou um "impulso muito grande para uma opção preferencial da Igreja Católica pelos pobres e para que haja justiça social no mundo".
Ela "tocou nas consciências das pessoas", disse. Com a religiosa, segundo o cardeal, "muita gente começou a se interessar pelas classes mais pobres, para que elas tenham educação, moradia e condições de vida dignas", disse.
Para o cardeal de São Paulo, "Teresa transformou a mentalidade mundial pela simplicidade de sua ação, sem fazer críticas a nenhuma autoridade". "Sem Teresa, fica um vácuo por um tempo (na Igreja). Mas sempre surgem novos personagens que ocupam o lugar dela", concluiu.

Texto Anterior: Madre Teresa foi operada nos EUA
Próximo Texto: Diferenças entre Índia e Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.