São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Filme japonês ganha Leão de Ouro; brasileiros ficam fora

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

A tragicomédia policial japonesa "Hana-Bi" (Fogos de Artifício), do diretor Takeshi Kitano, confirmou ontem o amplo favoritismo e levou o Leão de Ouro da 54ª Mostra Internacional da Arte Cinematográfica de Veneza.
O filme acompanha as desventuras de um detetive que larga tudo e se envolve com a máfia nipônica para passar os últimos dias ao lado da esposa com câncer terminal.
"Meu filme se baseia nos valores do Japão tradicional. Não esperava que fosse tão bem recebido no Ocidente", disse Kitano na coletiva que concedeu logo após o anúncio do resultado.
Respondendo à Folha, o cineasta disse esperar que o prêmio o ajude a "criar um movimento no cinema japonês rumo a uma produção mais cerebral".
"Mas um cineasta só é pouco. É preciso um grupo, quatro ou cinco", continuou. "Veja Kurosawa. Sempre esteve sozinho."
A vitória de Kitano foi o único prêmio recebido com aplausos no anúncio feito no início da tarde de ontem pela presidente do júri, Jane Campion (diretora de "O Piano").
Brasileiros
Fora "Hana-Bi", que será exibido na próxima Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a lista de vencedores oscila entre a injustiça e a mediocridade.
O longa brasileiro "A Ostra e o Vento", de Walter Lima Jr., não recebeu qualquer prêmio oficial, levando apenas o terceiro prêmio do júri de jovens da associação CinemAvvenire.
Também esquecido foi o curta-metragem nacional "O Enigma de Um Dia", de Joel Pizzini.
Favorito até a última hora, acabou batido pelo africano "Ainsi Soit-il?", de Joseph Gaye Ramaka.
Adaptado de um original do prêmio Nobel Wole Solyinka, gira em torno do misticismo que marca uma vila. Venceu devido à grife.
O júri de curtas foi presidido pelo cineasta italiano Marco Bellocchio.
O Grande Prêmio Especial do Júri foi para a comédia italiana "Ovosodo", de Paolo Virz.
As Copas Volpi para ator e atriz foram para os americanos Wesley Snipes ("One Night Stand") e Robin Tunney ("Niagara, Niagara").
Um escárnio foi a Osella d'Oro de roteiro para "Nettoyage à Sec" (Lavagem a Seco), da francesa Anne Fontaine.
O português Emmanuel Machuel ("Ossos") bateu o brasileiro Pedro Farkas ("A Ostra e o Vento") na disputa pela Osella de melhor fotografia.
Foi mais uma composição, dada a vontade do júri de atribuir algum reconhecimento a "Ossos", o mais experimental filme da disputa.
A Osella de melhor trilha ficou com Graeme Revell por "Chinese Box", de Wayne Wang.
Por fim, a Medalha de Ouro da Presidência do Senado foi para "Vor" (Ladrão), de Pavel Chukhrai.
Reservado para louvar valores cívicos e humanistas, acabou indo para um melodrama cético sobre um bandido galanteador. Tem a coerência da premiação.
Diana
Os funerais da princesa Diana em Londres impediram a viagem a Veneza da atriz Nicole Kidman, que deveria retirar o Leão de Ouro pela carreira atribuído a Stanley Kubrick ("Laranja Mecânica").
O cineasta, em nota enviada ao festival, desculpou-se e pediu a Jane Campion que recebesse o prêmio em seu nome.

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