São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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'Todo o mundo viu', da França ao Japão

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

- Em todo o mundo, as pessoas estão acordando cedo.
Era Peter Jennings, âncora da ABC, maior rede americana, ao vivo de Londres, na madrugada de ontem. Bernard Shaw, o âncora negro da CNN, a rede mundial, repetia na sequência, também de Londres:
- Espectadores em todo o mundo estão vendo.
E estavam, acordando cedo ou dormindo tarde. A aldeia global incluiu a NHK japonesa, a Eco argentina, a Telenoticias "hispânica", a TV5 francesa, a DW alemã, a TVE espanhola, a RTP portuguesa, todas ao vivo, algumas com intervalos.
Sem contar, é claro, a BBC, histórica e modorrenta rede britânica, agora em versão mundial, concorrente da CNN. E sem contar as nacionais, todas as redes abertas e muitas fechadas, com imagens da BBC, da ITN e da Sky, britânicas.
A transmissão no Brasil, a cabo e por satélite, trazia canais de todo "o mundo", ao vivo, com imagens muito semelhantes, incontáveis "biógrafos" e consultores e entrevistados, em desmedida repetição.
Os âncoras falavam, não para públicos nacionais, mas para "o mundo". A consciência da aldeia global avançou pelo auge do funeral e de sua cobertura, no emocionado tributo do irmão da princesa Diana:
- Eu me coloco diante de um mundo em choque... Tal era o seu apelo extraordinário que dezenas de milhões de pessoas, participando deste serviço em todo o mundo, por televisão e rádio, que nunca a encontraram, sentem que eles também perderam alguém próximo...
Estava certo, "o mundo" participou da cerimônia. Também os britânicos nas ruas sabiam falar ao mundo, como um homem choroso, na CNN:
- Apesar de inglesa, ela era uma princesa que pertencia ao mundo...
E o que "o mundo" assistiu e assimilou em uníssono foi, sobretudo, uma celebração entre comovente e melodramática nas intervenções do próprio irmão e de Elton John, com as menções à luta de Diana contra a Aids, contra as minas etc.
Na mesma linha, os ataques redobrados à mídia, na passagem da cerimônia de maior repercussão nas ruas, segundo a BBC. Na descrição da CNN, "as palavras do nono conde Spencer reverberam pelo mundo".
Ao final, de definitivo mesmo só a convicção de Bernard Shaw de tomar parte de um evento "como nenhum outro na história moderna". Se não pelo espetáculo, pela audiência.

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