São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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PMs são acusados de matar criança

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois soldados da Polícia Militar são acusados de sequestrar, matar e esconder o corpo do estudante Ives Yoshiaki Ota, de 8 anos.
O sequestro aconteceu no último dia 29, na rua Pedro Pires, Vila Carrão (zona sudeste de SP). Ives foi morto com dois tiros na cabeça no dia seguinte, antes de qualquer contato dos sequestradores com a família, segundo a polícia.
Além dos policiais militares, foi preso o motoboy e segurança Silvio da Costa Batista, 26, que confessou ter sequestrado o menino a pedido dos policiais. Batista seria informante da Polícia Civil.
O corpo do estudante só foi encontrado na noite de anteontem, enterrado no quarto da casa onde Batista vivia com a mulher e a filha, em Itaquera (zona leste).
Mesmo após a morte do garoto, os sequestradores continuaram extorquindo a família, exigindo dinheiro para que Ives fosse libertado. A extorsão só cessou após a prisão de Batista, na tarde da última sexta-feira.
Os policiais militares acusados, Paulo de Tarso Dantas, 34, e Sergio Eduardo Pereira de Souza, 28, conhecem o pai do estudante, o comerciante Massataka Ota, 41, há pelo menos seis anos.
Eles trabalham como segurança em um centro comercial em São Miguel Paulista (zona leste), onde Massataka tem uma de suas 12 lojas que vendem qualquer tipo de produto por R$ 1,99. Paulo de Tarso também fazia segurança do quarteirão onde Massataka mora.
A ação
A ação inicial dos sequestradores ocorreu por volta das 19h30 de 29 de agosto, uma sexta-feira. Batista chegou à casa da família Ota com um buquê de flores e uma caixa de presente, dizendo que trabalhava em uma floricultura e queria entregar a encomenda para a sobrinha de Massataka, de 16 anos.
Quando a empregada da casa abriu o portão, foi rendida por Batista, armado com uma pistola que, segundo a polícia, pertence ao policial Paulo de Tarso.
Batista trancou a empregada e a sobrinha de Massataka no banheiro e fugiu com a criança.
A um quarteirão dali, de acordo com o delegado José Alves dos Reis, diretor do Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio), os dois policiais aguardavam Batista. Paulo de Tarso estava em um Monza e Sergio, em uma moto.
A família comunicou o assalto à Polícia Civil minutos depois.
No dia seguinte ao sequestro, Massataka recebeu a primeira ligação dos sequestradores, exigindo R$ 800 mil para libertar seu filho. A polícia acredita que, no momento dessa ligação, o garoto já estivesse morto. Seu corpo foi encontrado anteontem, mas, pelos exames necroscópicos, os legistas do IML acham que ele estava morto havia pelo menos oito dias.
Além de procurar a polícia, Massataka pediu ajuda a Paulo de Tarso, achando que ele pudesse ajudar por ser policial. O último contato com os sequestradores ocorreu sexta-feira à tarde, quando Batista reduziu o resgate para R$ 80 mil.
A polícia rastreou a ligação e conseguiu prender o motoboy minutos depois, próximo ao orelhão onde ele tinha feito a ligação, na Vila Carrão. Ele confessou o crime e acusou os dois PMs, que negam as acusações.

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