São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Grupo protesta e cortejo pára em delegacia

ANDRÉ MUGGIATI
DA REPORTAGEM LOCAL

Familiares e amigos do menino Ives Yoshiaki Ota, morto por sequestradores, fizeram uma manifestação de protesto em frente à casa do pai dele, Massataka Ota, antes da saída do caixão para o cemitério, às 15h de ontem.
Batendo palmas sobre a cabeça, comandados por Ota, as centenas de pessoas gritavam em coro "justiça, justiça". Alguns mais exaltados gritavam "pena de morte" e "assassinos".
Após a saída do caixão, no caminho para o cemitério, Ota fez com que o cortejo parasse em frente a uma delegacia.
Transtornado, Ota entrou na delegacia, mas ninguém quis falar com ele. "Eu quero encontrar alguém que faça justiça pelo meu filho", dizia.
Ota foi retirado da delegacia pelo coronel da PM Edson Teixeira. "Aqui não é lugar para bagunça. Agora você tem que enterrar seu filho", disse Teixeira.
Ota saiu chorando e retornou para o cortejo.
Emoção
Desde a manhã o clima no velório de Ives Ota, na casa da família, foi de emoção. Coroas de flores não paravam de chegar.
O número de pessoas que visitavam o velório foi aumentando com o passar do dia. Ao todo, mais de mil pessoas, segundo a família, estiveram na casa para se solidarizar.
Todos deixavam chorando a sala onde estava o caixão, lacrado, com o corpo do menino.
Ota, muito emocionado, lamentava sem parar a perda do filho. Sobre o caixão, dizia: "Filho, você era meu herói. Você provou para mim que era o número um e que sempre ia chegar em primeiro lugar".
Após dar algumas entrevistas à imprensa, pela manhã, Ota passou a não falar mais. Só chorava. Segundo a família, estava emocionado demais para conversar.
Em outra ocasião, sobre o caixão, gritou: "A gente tem que lutar para os nossos filhos viverem em paz, poderem brincar na rua sem morrer ou serem sequestrados. Eles não podem só ficar presos dentro de casa".
A advogada Keiko Ota, mulher de Massataka, também se recusava a falar. "Não vai adiantar nada", murmurava.
Segundo a família, Keiko, que é conhecida também como Iolanda, ainda não havia conseguido chorar, até a manhã de ontem. Depois, não parou mais.
Imigrantes
A família Ota veio do Japão em 59, quando Massataka tinha apenas 2 anos de idade.
Massataka é o filho mais novo de Tokosuki Ota, 74, que fugiu de seu país, devastado pela guerra, atrás de melhores condições de vida.

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