São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Até quando secretário vai colecionar fracassos?

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Alô, governador Mário Covas! O que mais terá de acontecer para que o senhor se dê conta de que o secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva, não tem a menor capacidade para ocupar um cargo de tamanha importância?
Jurista de primeira, mas totalmente despreparado para controlar os desmandos que ocorrem dentro da toda-poderosa PM, José Afonso da Silva está se tornando um colecionador de fracassos.
Não foi na administração do secretário que aquele delegado forjou a confissão de inocentes no caso do bar Bodega?
Não foi na administração do secretário que policiais torturaram, extorquiram e mataram em Diadema?
À lista de fracassos, juntam-se agora mais dois casos.
Soubemos pelo noticiário de ontem que sequestradores negociaram com familiares das vítimas do telefone de uma delegacia.
Pior, muito pior, também tomamos conhecimento de que dois policiais estão sendo apontados como os responsáveis pelo sequestro e assassinato de um menino de 8 anos.
Os mesmos homens contratados para fazer a segurança da família de Massataka Ota, comerciante da Vila Carrão, mataram com dois tiros no rosto seu filho Ives Yoshiaki Ota e o enterraram debaixo do berço do filho de um cúmplice, informante da polícia.
Os acusados alegaram que o menino chorava sem parar e que eles temiam ter sido reconhecidos pela vítima. Foram obrigados a matá-lo.
Na TV, vimos o senhor Ota, aos prantos, perguntar: "Em quem podemos confiar?"
Sempre achei que se pode, sim, confiar na polícia e que a generalização que se faz ao colocar policiais e bandidos no mesmo saco é exagerada.
Claro, sou branca e pertenço a uma classe social que só tem um contato eventual com a polícia para, digamos, notificar o roubo do carro.
Não sou a pessoa mais adequada para responder a incômoda pergunta do senhor Ota. Mas sei que, se me colocasse por um minuto na pele do senhor Ota ou dos trabalhadores que, rotineiramente, são parados sem motivo pela polícia, que sofrem espancamentos ou são forçados a pagar "pedágio" para esses foras-da-lei com distintivo, responderia de boca cheia: em ninguém, muito menos na polícia comandada pelo secretário José Afonso.

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