São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Há 25 anos, em Monza, piloto conquistava primeiro título

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 10 de setembro de 1972, o Brasil vivia a ressaca de um grande festa. A Independência completava 150 anos e comemorava-se o sesquicentenário.
Boa efeméride para o regime militar do presidente Emilio Médici vender a imagem de um país próspero, que convidava os insatisfeitos a se retirarem com o bordão "ame-o ou deixe-o".
Os mais insatisfeitos eram tratados com energia. Falava-se em tortura, que de fato acontecia.
Diante desse cenário, Emerson Fittipaldi, brasileiro, 25 anos, conquistou seu primeiro título mundial de F-1. Era a prova, inconteste: o país poderia dar certo.
Se o Brasil deu certo ou não, cada um que responda. É fato, entretanto, que depois de Emerson, o automobilismo se tornou mais um campo em que o país poderia triunfar, ser o melhor.
Emerson, porém, nunca quis ser o melhor. Enquanto o Brasil pegava fogo, no final dos 60, ele era apenas mais um menino rico a se divertir em Interlagos.
Deixou a boa vida de lado, em 69, quando resolveu tentar a sorte na Europa. Com o dinheiro de um fusca no bolso, voou para a Inglaterra com um único pensamento: "Se um dia eu conseguir dar a largada numa corrida de F-1, posso morrer em seguida".
Quinze meses mais tarde, ele largou na F-1. Era 19 de julho de 1970, GP da Inglaterra, em Brands Hatch, o primeiro a ser transmitido ao vivo para o Brasil.
Dois anos depois, com a Lotus preta, o primeiro carro a abraçar totalmente as cores de um patrocinador, Emerson já era o favorito absoluto quando chegou a Monza, há exatos 25 anos.
Tinha 25 pontos de vantagem sobre Jackie Stewart, o grande rival, e bastaria administrar os resultados de três corridas para ser campeão. Nem ele acreditava.
Por pouco não largou. Na viagem ao autódromo, o caminhão da equipe se envolveu em sério acidente, que destruiu seu carro.
Coincidentemente, Colin Chapman, dono do time, havia deixado outro caminhão na fronteira com a França -temia ser confiscado pela Justiça italiana, que o processava pela morte de Jochen Rindt, ocorrida em 70.
Emerson poderia correr. Mas o carro reserva, porém, não rendia, e ele foi apenas sexto na classificação. Para piorar, seu tanque de gasolina furou no aquecimento.
Apesar de tudo, Emerson largou. Stewart andou 100 metros e quebrou. Clay Regazzoni bateu em José Carlos Pace. Jacky Ickx quebrou. E Emerson venceu.
Não mudou o país. Pior, sofreu com a crise, que inviabilizou o projeto pessoal Copersucar.
Mas provou que era possível vencer. E fez do automobilismo, antes apenas uma brincadeira de elite, outro futebol.
(JHM)

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