São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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SERJÃO, MAIS UMA VEZ

O porta-voz das opiniões impublicáveis da Presidência e o único grande escudeiro de Fernando Henrique Cardoso voltou à arena. O ministro Sérgio Motta, que parece ter sido dispensado do voto de silêncio de quase dois meses, criticou aliados e o Congresso e reassumiu seu papel de líder de fato do PSDB. Ao fazê-lo, num discurso para tucanos, deu indicações sobre o funcionamento da engrenagem política do país.
Na perspectiva mais imediata, a aparição de Motta denota o tipo de relação que mantém com FHC e sugere uma hipótese provável sobre as recentes tentativas de casuísmo eleitoral. Motta chamou de oportunismo "quase nojento" o projeto de lei que facilita, entre outras, a eleição do presidente. O casuísmo golpista teve péssima repercussão. Seria ingênuo crer que o governo ignorasse tal projeto -é provável que tolerasse tacitamente o balão de ensaio. Diante da indignação, o trator discursivo de Motta teria sido tirado da garagem para limpar o terreno do Planalto.
Numa perspectiva mais ampla, o discurso de Motta é uma declaração de guerra explícita por espaço num eventual segundo governo FHC. Os tucanos, diz o líder Motta, devem ter maioria parlamentar. Desse modo, segundo o ministro, seriam aprovadas reformas de peso, hoje atrapalhadas pela relação "incestuosa" do governo com o Congresso.
Além de sugerir que os incestuosos são os outros -os aliados PFL, PPB, PTB e PMDB-, Motta relega a um segundo, ou terceiro, plano o papel desses partidos na implantação do projeto econômico do governo.
O ministro despreza a aliança governista, para ele um lastro de má qualidade. Toma para si a tarefa de comandar a troca dos "incestuosos" e inoperantes aliados por uma poderosa bancada tucana. Resta saber agora qual será a posição do presidente. Pode ter "soltado" o ministro para dar o troco no pefelismo de ACM. Ou pode surpreender e desautorizar seu amigo e subordinado que acabou de desqualificar uma política de alianças que FHC firmou há quase quatro anos e continua defendendo.

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