São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 1997
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A cautela dos estrangeiros

CELSO PINTO

Ninguém sabe ao certo se o Brasil vai passar ou não por uma crise monetária. Os indicadores são incertos e há mais de um desfecho possível numa situação de eventual pressão dos mercados.
Inegável é que o nervosismo aumentou e que a crise asiática tornou o Brasil mais vulnerável, observa Michael Adler, professor de finanças da Universidade de Columbia e consultor de instituições financeiras e governos. Provas disso são o indicador de posições em aberto em dólares nos mercados futuros e de opções da BM&F e os papéis emitidos pelo governo com correção cambial.
Em julho do ano passado, diz Adler, essas posições somavam US$ 32 bilhões, o equivalente a metade das reservas cambiais. Em agosto deste ano, elas saltaram para US$ 74 bilhões, mais do que os US$ 60 bilhões de reservas.
Quem compra posições em dólares nos mercados futuros, ou papéis com correção cambial, está querendo se proteger contra uma desvalorização cambial. Têm sido, principalmente, estrangeiros, incluindo os grandes fundos. Quem vende posições aposta que a política cambial não mudará. Têm sido especialmente os brasileiros.
O enorme crescimento na procura de "hedge", ou proteção contra desvalorização, pode acabar criando uma pressão sobre as reservas, observa Adler. É claro que o governo pode emitir tantos títulos com correção cambial quantos quiser. Mas, como mostra o exemplo do México, a certa altura isso pode ter um efeito desestabilizador.
Especialmente se os estrangeiros forem os maiores compradores. Em 94, títulos indexados no México, os "Tesobonos", pularam de US$ 2,5 bilhões em março para US$ 30 bilhões no final do ano. Eram títulos de curto prazo, e foi a relutância dos investidores externos em renová-los, no início de 95, que levou o México ao risco de insolvência e ao pacote de resgate. No final, obrigou o México a um ajuste econômico duríssimo.
Não é trivial encontrar indicadores que possam alertar sobre futuras crises. A corrida por "hedge" é um deles, diz Adler. Em dois outros indicadores, o Brasil vai bem: a inadimplência e a relação entre crescimento da moeda em relação às reservas.
Adler argumenta que o Brasil dispõe de uma arma eficaz contra pequenas crises, que seria acelerar as privatizações. O mais importante, contudo, é ganhar a confiança do mercado, o que é mais complicado quando a percepção geral é de que haverá problemas a médio prazo. Ajudaria muito, nesse caso, reforçar a disposição de avançar as reformas estruturais.
"A percepção do mercado é de que o Brasil ainda é um bom lugar para investir, mas não sem um 'hedge"', define.
O principal desafio, contudo, são crises que possam vir de fora. Uma alta mais forte dos juros americanos. Ou fatores inesperados, como a recente pressão sobre a moeda colombiana, que, se resultar numa desvalorização, pode ser um sinal de que a crise monetária atravessou o Pacífico e chegou à América Latina.
O mercado está menos eufórico, a remuneração de papéis de empresas brasileiras teve que subir até uns 50 pontos básicos de porcentagem, e há uma concentração de vencimentos do país neste último trimestre. Um bom teste será a emissão de US$ 250 milhões em eurobônus de 10 anos, do BNDES, na próxima semana. As privatizações, mais uma vez, devem garantir a tranquilidade, conclui Adler.
O FMI e o Brasil
Quem viu o relatório que o FMI divulgará na próxima semana diz que há uma referência ao Brasil, advertindo contra os perigos de déficits excessivos tanto do lado fiscal quanto do externo. Algo na linha do que o diretor-gerente do fundo, Michel Camdessus, disse numa entrevista recente.
Depois das acusações de que o FMI não alertou o mercado sobre a iminência de uma crise no México, nem na Tailândia, marcar posição em relação a certos países passou a ser uma questão política importante. Mesmo na linguagem cuidadosa e, às vezes, críptica que o fundo costuma usar.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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