São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 1997
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UB-40 se diz aberto a todo tipo de música

SÉRGIO MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Acabou a mamata para o UB-40. O octeto de Birmingham, Inglaterra, conhecido pela lerdeza com a qual despeja seus discos no mercado, está pronto para trabalhar triplicado.
O primeiro resultado dessa injeção de ânimo chama-se "Guns in the Ghetto" (Virgin). Outros dois projetos, reunindo DJs jamaicanos e veteranos do reggae, devem sair ainda este ano.
O vocalista e guitarrista Ali Campbell com certeza é um dos responsáveis por essa onda de novidades no grupo. Enquanto o UB-40 esteve de férias, ele se mudou para a Jamaica, onde construiu um estúdio e fez amizade com a nata musical do local.
Em entrevista exclusiva à Folha, Campbell contou detalhes do projeto "Guns in the Ghetto", analisou a participação da banda em "Velocidade Máxima 2" e despejou sua indignação contra os detratores do UB-40, que não vêem o octeto como um grupo de reggae.
*
Folha - É verdade que "Guns in the Ghetto" é o primeiro disco de uma trilogia do UB-40?
Ali Campbell - Sim. Nas próximas semanas será lançada uma nova versão do álbum. Traz DJs como Ninja Man, Lady Saw, entre outros, fazendo suas versões das músicas do CD. Quanto ao outro disco, estamos trabalhando nele nesse momento. Tem cantores jamaicanos interpretando sucessos do UB-40. Muitos desses artistas são ídolos da gente, como Dennis Brown, John Holt, Ken Boothe e Leroy Sibbles.
Folha - Há rumores de uma vinda do UB-40 ao Brasil. É verdade?
Campbell - É bem difícil. As gravações de "Guns in the Ghetto" atrasaram bastante, tanto que tivemos de cancelar alguns shows nos EUA. No momento, estou trabalhando dia e noite ao lado de Brian Travers (saxofonista do UB-40). Adoraria voltar ao Brasil. Sempre quando vamos aí nos divertimos e tocamos para grandes platéias. Mas não acho que iremos tocar em seu país neste ano.
Folha - "Guns in the Ghetto" é uma canção contra a violência. Mas alguns artistas que participam da segunda versão do álbum são conhecidos por glorificar as armas -Ninja Man, por exemplo.
Campbell - Hoje em dia, na Jamaica, existe uma campanha maciça contra esse tipo de música. E os DJs estão mais conscientes da importância de sua mensagem. Querem se desassociar da violência. Muitos deles também possuem uma fama exagerada. Ninja Man, que você citou: ele tem aquele jeitão de bad boy, mas é uma pessoa doce.
Folha - "Oracabessa Moonshine" fala de um lugar especial na Jamaica, que foi habitado por Ian Fleming (criador do agente secreto James Bond). Qual sua relação com os contos de 007?
Campbell - Eu moro perto de Goldeneye, a antiga casa de Ian Fleming. Hoje ela é habitada por Chris Blackwell (dono da gravadora Island, que lançou Bob Marley mundialmente). Não gosto das histórias de James Bond, mas adorei Oracabessa.
Folha - Não se ouve em "Guns in the Ghetto" nenhuma novidade sonora. Nem mesmo drum'n'bass, que é o derivado mais famoso do reggae. Existe alguma rejeição contra esse tipo de música?
Campbell - Não, nós adoramos drum'n'bass! Mas preferimos deixar isso para os singles. Eles terão vários remixes, entre eles um dos Fugees. Eu e Earl Falconer (baixista do UB-40) fomos um dos primeiros artistas a patrocinar as primeiras raves movidas a drum'n'bass. Também gosto muito de tecno. Tanto que participamos de um disco do 808 State. O UB-40 é aberto a todo tipo de música.
Folha - Falando em abertura musical, o Kuff Records (selo de propriedade de Ali Campbell) pretende lançar algum artista novo?
Campbell - Sim, estou gravando uma banda da Jamaica chamada Four. Ela foi iniciada por Sly Dunbar e Robbi Shakespeare (ex-integrantes da banda de Peter Tosh e mestres da nova música jamaicana).
Folha - Como foi participar de "Velocidade Máxima 2"?
Campbell - Foi um convite de Jan De Bont, diretor do filme. A princípio, achamos a idéia estranha porque não somos atores. Mas ele garantiu que apenas tocaríamos durante uma festa. Topamos.
Folha - Deve ser por isso que ninguém sabe o que aconteceu com vocês depois que o navio ameaçou afundar?
Campbell - É mesmo... Não tinha me tocado disso. Afundamos em alguma parte do navio (risos).
Folha - Depois de todos esses anos, ainda existem críticos que insistem em chamar o UB-40 de uma banda pop e não um grupo de reggae?
Campbell - Sim, mas eu não me importo. A "Billboard" nos classifica como uma banda de reggae, somos admirados nesse meio musical. E "pop", para mim, é uma abreviação de popular. É melhor ser popular do que ser ignorado.
Folha - Entre os músicos de reggae existe preconceito contra o UB-40?
Campbell - Não, pelo contrário! Tanto que fizemos o projeto "Guns in the Ghetto". Eu também devo estar no próximo álbum de Sly & Robbie.
Folha - Em "Big Love" havia um dueto com sua filha, Kibibi. Ela tem intenções de seguir a carreira musical?
Campbell - Kibibi adorou cantar comigo, fazer clipes, essas coisas. Mas no momento ela anda muito ocupada ouvindo o CD das Spice Girls.

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