São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 1997
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Instrumentista elogia conjuntos jovens

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Quarteto Melos, de Stuttgart, volta a São Paulo para três concertos da temporada da Sociedade de Cultura Artística. Como novidade, traz Martin Lovett, 70, seu violoncelista convidado. Ele foi o titular do instrumento no já antológico Quarteto Amadeus (1947-1987).
O Melos foi criado em 1965. É dono de uma das mais refinadas sonoridades no repertório do final do classicismo e início do romantismo. Interpretará Mozart, Schubert, Haydn e Dvorak. Seu primeiro-violino é Wilhelm Melcher, 57.
Eis os principais trechos de sua entrevista à Folha.
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Folha - Um quarteto de jovens que se lançasse hoje no mercado encontraria as condições favoráveis que projetaram o Melos?
Wilhelm Melcher - Há excelentes quartetos jovens. Eles têm, sobre nós, a vantagem de se formarem no seio de orquestras jovens que não existiam em tão grande quantidade e qualidade no início dos anos 60. Mas como desvantagem há o fato de a concorrência entre os iniciantes ser bem maior.
Folha - Quando a concorrência se dá entre os novos e os mais experientes, estes últimos não levam a melhor por somarem uma compreensão mais aprofundada sobre a música de câmara?
Melcher - Uma partitura permite descobertas permanentes. Quanto mais vezes a interpretamos, em tese, melhor é a qualidade da interpretação.
Folha - Qual a relação entre a qualidade da execução e a cultura extramusical dos intérpretes?
Melcher - Há um contexto essencialmente musical. Um quarteto tardio de Beethoven remete aos primeiros quartetos e a suas sinfonias. Há também as relações com Mozart ou Haydn. No contexto extramusical, há a literatura e a poesia do período.
Folha - Muitos descobriram, em 1991 (200 anos de sua morte), que Mozart tinha coisas médias e passáveis ao lado da excelência. Com Schubert (200 anos de nascimento), o excesso de gravações não desnudaria agora o mesmo?
Melcher - Os dois casos são provavelmente reais. Mas é preciso levar em conta que esses dois compositores tiveram um período de aprendizado antes de chegarem a suas melhores peças de câmara. Esse aprendizado faz parte do repertório, da cultura que eles nos legaram.
Folha - Qual é a importância de se tocar num instrumento antigo, de altíssima qualidade? Um jovem violinista não tem US$ 1 milhão para comprar um Stradivarius.
Melcher - Há instrumentos modernos de grande qualidade. O Quarteto Italiano nunca usou instrumentos dos séculos 17 ou 18. Mas um bom instrumento antigo inspira o intérprete. De qualquer modo, não são apenas jovens cameristas que não têm uma fortuna para gastar na compra de um grande instrumento histórico. Eu, por exemplo, sou um músico, não um banqueiro.

Concerto: Quarteto Melos, com Martin Lovett (violoncelo)
Quando: dias 15, 16 e 17, às 21h
Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/258-3616)
Quanto: de R$ 25 a R$ 50; estudantes, R$ 10 (meia hora antes de cada concerto)

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