São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Quatro sem-terra são presos no Paraná

DA AGÊNCIA FOLHA, EM JUNDIAÍ DO SUL

Quatro líderes do Movimento Sem-Terra Norte do Paraná foram presos na manhã de ontem seis dias após torturarem dois fazendeiros e cinco funcionários da fazenda Cordilheira, em Jundiaí do Sul (PR).
A prisão preventiva dos quatro sem-terra foi determinada pela juíza Telma Regina Magalhães Carvalho, de Ribeirão do Pinhal, com base no artigo 148 do Código Penal (refere-se a sequestro e cárcere privado) e seu parágrafo 2º, que prevê os agravantes da pena.
No despacho da juíza, os sem-terra são acusados de sequestrar e manter em cárcere privado os dois fazendeiros -Haroldo Schweitzer e Ney Mário Minardi- e os cinco funcionários.
No agravante previsto no parágrafo 2º, foi tipificado "maus-tratos graves às vítimas, com grave sofrimento físico e moral".
A pena prevista é de dois a oito anos de reclusão.
Foram presos o líder do movimento, Idair Sebastião Ribeiro -o "Odair Macota"-, Vanderlei Tardeli, Anísio Xavier Dias e Renato Pedro de Almeida.
Este último teve sua prisão requisitada pelo delegado Tarciso Cândido de Carvalho, na noite de anteontem, após ter prestado depoimento e admitir ter agredido o fazendeiro Ney Mário Minardi.
O primeiro a ser preso foi Anísio Xavier Dias, o "Polaco", em Ribeirão do Pinhal, às 9h.
Ele disse, em Nova Fátima (norte do Paraná), para onde foi levado após a prisão, temer que sua prisão seja em razão de problemas anteriores.
Xavier Dias responde a processo por agressão contra funcionários da fazenda Planalto, em Jundiaí do Sul (364 km ao norte de Curitiba), há cinco anos, durante invasão.
Vanderlei Tardeli e Renato Pedro de Almeida foram presos às 11h45, quando iriam à delegacia de Jundiaí do Sul.
Almeida, que havia prestado depoimento na véspera, foi chamado à delegacia para assinar seu depoimento. Tardeli iria prestar depoimento.
Pouco depois das 12h, chegou Idair Sebastião Ribeiro acompanhado de seu advogado, Agostinho Magno Alcantara.
Preso, ele foi encaminhado à delegacia de Nova Fátima (50 km de Jundiaí do Sul), onde foi reunido aos outros três presos e transferido para Londrina.
Às 15h30, os presos foram encaminhados ao 2º Distrito Policial de Londrina. Segundo o delegado José Antonio Zuba de Oliva, não existia nenhuma previsão de que os sem-terra fossem transferidos para Curitiba.
O tenente Luiz Carlos Cruz Oliveira, do 2º Batalhão da Polícia Militar de Jacarezinho, que comandou as prisões, afirmou que a transferência dos presos, primeiro para Nova Fátima e depois para Londrina, foi para evitar reações por parte dos sem-terra com as prisões dos líderes.
Em Nova Fátima, Idair Sebastião Ribeiro afirmou que sua prisão foi injusta. "Eu fui baleado pelo fazendeiro, não participei de nada e estão me levando", disse.
Segundo Ribeiro, o advogado contratado por ele iria defender os quatro sem-terra.
"Ele vai achar um jeito de retirar (relaxar) essa preventiva contra a gente", afirmou.
O advogado Alcantara, no entanto, afirmou que só havia sido contratado para defender Ribeiro.
Segundo ele, ainda eram necessários "alguns acertos" com a família para estabelecer uma estratégia para a defesa do líder dos sem-terra.
História
O movimento liderado por Ribeiro atua no norte e nordeste do Paraná desde o final dos anos 80.
Idair Sebastião Ribeiro é suplente de vereador pela coligação PSB-PV no município de Ribeirão do Pinhal (PR).
Segundo ele, o Movimento Sem-Terra do Norte do Paraná já assentou mais sem-terra no Estado que o próprio MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), grupo com o qual não tem ligações.

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