São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Assaltantes escapam à perseguição

NELSON ASCHER

Após intensa perseguição, que começou nas torres gêmeas do condomínio fechado Ibirapuera, um grupo de assaltantes escapou, nas proximidades do shopping center Cidade Universitária, aos helicópteros de combate da Guarda Metropolitana Paulistana.
Obuses perdidos durante o tiroteio atingiram vários dos veículos presos no congestionamento monstro de cerca de 1.500 km, que perdura há mais de um mês em São Paulo. Apesar da blindagem obrigatória, 23 dentre os ocupantes dos carros morreram imediatamente e 11 dos que sofreram ferimentos estão internados em estado grave na UTI do Hospital Privado das Clínicas. Houve mais de cem outros feridos. Devido, porém, a problemas de carência ou de atraso nas mensalidades de seus planos de saúde, eles continuam agonizando no local.
Essa é a primeira vez, neste ano, que as Torres Gêmeas são assaltadas. Erguidas, nos anos 40, no antigo parque Ibirapuera (doado pela prefeitura à empreiteira beneficente da Fundação para a Construção de Moradias Populares da Câmara Municipal), elas são o refúgio da alta classe média da capital. Tudo indica que os ladrões buscavam obras do MAM e Masp, museus já fechados, cujos acervos decoram a recepção das Torres e os apartamentos dos moradores.
Os habitantes da região, preocupados com a intensificação do tiroteio, chamaram a GMP às 14h30 de ontem. "Geralmente são só os adolescentes do condomínio atirando nas famílias de mendigos que se abrigam do lado de fora das muralhas eletrificadas", disse um observador que não quis se identificar, "mas quando ouvimos as bazucas e os mísseis terra-terra, concluímos que havia alguma coisa no ar".
A GMP chegou às Torres Gêmeas às 17h, mas foi impedida de entrar pela segurança interna, pois esse é um dos condomínios aos quais o imperador Fernando 3º Collor concedeu autonomia administrativa. O tenente-coronel Máicou Géquiçon de Souza declarou que muitos moradores devem ter sido atingidos pelo fogo cruzado, alguns provavelmente se aproveitando da situação para acertar contas com vizinhos. A assessoria de imprensa das Torres Gêmeas não quis fazer comentários.
Às 18h45, os ladrões conseguiram se evadir do condomínio usando Hondas 12 mil W, as motos de alta potência que os fotógrafos de celebridades tornaram famosas. Depois de uma escaramuça com a segurança interna, que queria agir fora de seus limites, a GMP saiu no encalço dos assaltantes que, enveredando pelo viaduto Gov. Gugu Liberato, costuraram seu caminho em direção à marginal do rio Pres. Paulo Maluf Jr. e, de lá, pouco antes de alcançar a única ponte que ainda não desabou, a pte. Sta. Xuxa, cruzaram, correndo, sobre o lodo radiativo, o rio rumo ao shopping Cidade Universitária, o luxuoso megapalácio futurista projetado pela arquiteta Madonna Niemayer e construído também pela empreiteira beneficente da Câmara Municipal, no terreno da última universidade brasileira, a extinta USP.
Perto do megapalácio, os assaltantes desapareceram. O tenente-coronel de Souza disse que eles provavelmente dispunham de salvo-condutos para obter asilo no shopping (que está fora da jurisdição da prefeitura) e reclamou: "Não temos verbas e nosso equipamento é obsoleto, do tempo da guerra civil interétnica norte-americana". Mas outro observador, que tampouco quis ser identificado, declarou: "Eles nunca pegam ninguém; como o condomínio é da elite evangélica protegida pelo imperador, ainda encenaram uma perseguição; se as vítimas pertencessem às massas islâmicas da periferia, a GMP nem teria saído de seu QG".

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