São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997 |
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Sete vidas
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE Um colega me disse que Emerson se despediu em grande estilo. A mais de 300 km/h, na pista mais veloz do mundo, disputando forte com um moleque 20 anos mais novo.Foi para Miami, retificou a coluna e resolveu deixar o tempo passar. O tempo, que, dizem, quase tudo resolve. Nesta semana, Emerson teve que ir de novo para Miami. Afinal, o tempo resolveu a parada definitivamente. Emerson sempre foi e sempre será deliciosamente irresponsável. Pertence àquela categoria de pessoas que vive a essência dos momentos em detrimento a todo o resto. Planejamento, organização, coisas para engenheiro, chefe de equipe. Piloto tem que viver seus momentos, sozinho, dentro do carro, como Emerson já ensinou em livro, sintonizando os diversos canais: como estou, como está o carro, os pneus, o motor, os adversários. Desligar-se de tudo e de todos e viver com prazer o momento único, só seu. Emerson vivia mais um de seus momentos únicos no último domingo. Não pense no depois, apenas no momento: voar, atirar laranjas na piscina, se divertir com o filho mais novo. De repente, tudo foi para o brejo. O mundo real despencou à sua frente, sólido, implacável como aquele muro de Michigan que decretou sua aposentadoria em poucos segundos. A realidade do filho assustado, dos urubus, do Corpo de Bombeiros, dos exames, de Miami, da coluna de titânio, de quem já tem 50 anos. A realidade que Emerson tenta dobrar desde o ano passado, que preferiu, sabe-se lá por quê, dar apenas mais outro aviso. A mesma realidade que tentamos esconder de nós mesmos, muitas vezes, para que acordar de manhã não signifique um ato de pura insanidade. Rato não tem sete vidas e, espera-se, Emerson deve ter aprendido mais essa lição. Duvido. Texto Anterior: Anteontem Próximo Texto: Fisichella; Doohan; Como é que fica?; Racing Day Índice |
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