São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Governo mundial põe fim aos passaportes

FERNANDO GABEIRA NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A decisão do governo mundial de acabar com os passaportes foi comemorada ontem em quase todas as fronteiras dos Estados nacionais.
"Vou guardar meu passaporte como uma relíquia do mesmo modo que antigamente as pessoas guardavam fragmentos do Muro de Berlim", afirmou o paquistanês Joseph Amin ao entrar em Bruxelas sem ser incomodado pelos guardas.
Com o fim do passaporte, a única identidade ainda exigida é a eletrônica, um documento criptografado de 128 bits que muitos usam no computador pessoal.
O secretário-geral do GM, Patrice Natarafat, iria anunciar, pessoalmente, o fim do passaporte, mas contraiu Aids, e os médicos recomendaram dois dias de repouso e muito líquido para que ele possa voltar ao trabalho na segunda-feira.
"Não há perigo", disse Natarafat, em mensagem escrita, "de que o fim do passaporte provoque grandes migrações como nos tempos em que ainda havia emprego para os recém-chegados."
O governo mundial paga uma renda mínima a todos os habitantes do planeta e já não se importa mais onde as pessoas vão consumir sua cota pessoal. A única pressão conservadora, no momento, é no sentido de o GM reduzir a dose de metadona daqueles que apresentarem comportamento anti-social.
Natarafat descarta essa hipótese, sob o argumento de que a redução da metadona pode aumentar a irritação com a desigualdade econômica.
No momento em que a juventude se deixa seduzir por propostas contra o tabu do incesto, o GM decidiu adotar como tática a tese do fim das utopias. A tese visa, indiretamente, combater a esperança de uma sociedade erotizada e solidária.
A tática do fim das utopias é quase tão velha quanto elas, e os grupos descontentes argumentam que já há base técnica para que as pessoas passem semanas fazendo amor: há tempo e medicamentos adequados para essa maratona moderna.
A maioria dos observadores concorda que o fim dos passaportes não trará grandes alterações, pois nos últimos meses eram examinados burocraticamente.
"Acabaram as fronteiras do mundo", disse o presidente do velho Estado nacional norte-americano, John Sanchez, "mas vamos proteger o planeta dos inimigos intergalácticos. Precisamos de equipamentos mais sofisticados e mais verbas para uma verdadeira guerra nas estrelas."

Leia edição especial sobre o passaporte no mundo no jornal de domingo. A Folha continua sendo um brinde para quem comprar o CD e o detergente à base de raio laser que colocamos nas bancas todos os dias.

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