São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Papéis se tornam atraentes

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Para José Pio Borges, o apelido de "moedas podres" já não é adequado para os títulos que foram usados como meios de pagamentos nas privatizações. Segundo ele, esses papéis estão sendo hoje muito procurados para servir de lastro para fundos de renda fixa.
Os TDAs (Títulos da Dívida Agrária), uma das principais famílias das chamadas "moedas podres", foram negociados no último dia 10 com deságios (descontos sobre os valores de face) entre 24,58% e 15,35%, de acordo com dados da Andima.
Para Pedro Bodin, ex-diretor do Banco Central, hoje diretor do Banco Icatu e vice-presidente da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), a boa aceitação que esses títulos têm é consequência da remuneração que eles estão pagando.
Segundo ele, há títulos indexados pelo IGP (Índice Geral de Preços) que estão pagando entre 14,5% e 16% de juros ao ano mais a variação do índice da FGV (Fundação Getúlio Vargas), dependendo prazo de vencimento.
Outros papéis, indexados pela TR (Taxa Referencial), estão pagando entre 13,5% e 14,5% de juros mais a variação da taxa.
Para ele, a expressão "moeda podre" foi "um nome infeliz" usado para definir dívidas da União que não vinham sendo pagas, mas que teriam de ser quitadas.
Segundo Bodin, embora o estoque desses títulos seja grande, o mercado só gira hoje um número próximo a R$ 2 bilhões. Os papéis mais negociados são os TDAs, as debêntures da extinta Siderbrás e as dívidas da extinta Sunamam.
José Pio Borges disse que as moedas remanescentes das privatizações podem somar menos que o valor computado na Cetip (Central de Títulos Públicos).
Para Valéria Areas Coelho, superintendente técnica da Andima, a valorização das que ela considera "ex-moedas podres" é consequência da confiança que o mercado deposita na disposição do governo de pagar esses títulos. "O Tesouro está com um discurso de que não vai praticar o calote."
Órgãos extintos A relação de títulos usados nas privatizações inclui débitos de órgãos extintos que vão do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) à Sunamam (Superintendência Nacional da Marinha Mercante).
Somente em dívidas da Sunamam ainda existem no mercado R$ 2,86 bilhões. Os débitos do IAA somam R$ 348,7 milhões.
Há outro papel relacionado com a indústria do açúcar e do álcool que representa os débitos do Programa de Política de Preços Nacionais Equalizados de Açúcar e Álcool junto a usineiros.
As debêntures da Siderbrás, que lideraram individualmente os papéis usados nas privatizações, ainda somam R$ 1,1 bilhão. Elas representam débitos por papéis emitidos pela antiga holding do setor siderúrgico para captar empréstimos no mercado interno.
Os CPs (Certificados de Privatização) usados nas privatizações (o equivalente a US$ 1,3 bilhão) não são títulos de dívidas antigas.
Foram papéis que o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello impôs ao mercado como uma espécie de antecipação de venda das empresas estatais.
(CS)

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