São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Zé Gomes diz que "contrataria de novo"

LUCIO VAZ
DO ENVIADO ESPECIAL A ITUMBIARA

O deputado Zé Gomes da Rocha (PSD-GO) confirmou, em entrevista gravada à Folha, que contratou sete jogadores e mais o supervisor do Itumbiara Esporte Clube pelo seu gabinete. "Eu contratei jogadores sim. E, se for presidente de novo, eu contratarei de novo."
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida no sábado passado no intervalo do jogo entre o Itumbiara e o Anápolis
(LV):
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Folha - É interessante para um parlamentar, politicamente, presidir um clube de futebol?
Zé Gomes da Rocha - Não. Politicamente não soma nada. O cidadão que mexer com o futebol pensando em ganhar votos está redondamente enganado. Eu montei um dos melhores times da história do Itumbiara em 92, tive o maior público do campeonato. Também peguei o Itumbiara na segunda divisão e retornei à primeira. Isso me rendeu, lógico. Mas, infelizmente, o futebol só dá prejuízo financeiro.
Folha - O sr. está afastado da presidência, por quê?
Zé Gomes - O estatuto proíbe a reeleição por mais de três vezes. Como eu já havia sido eleito três vezes consecutivas, passei para a presidência do Conselho Deliberativo.
Folha - Os jogadores fazem algum trabalho político para o sr. em campanhas, de busca de votos?
Zé Gomes - Não, a maioria dos jogadores é de fora, nem o título transfere. Mas, com o tempo, eles passam a conhecer a gente. Quando tem um problema de caráter pessoal a gente resolve, como amigo. Então, já teve eleição em que eu vi jogadores pedindo votos para mim. É gratificante.
Folha - Nós fizemos uma pesquisa na Câmara e descobrimos que, durante algum período, havia alguns jogadores do clube que recebiam salário pelo seu gabinete. Isso é permitido?
Zé Gomes - Olha, eu tenho uma coisa comigo: eu não convivo com o errado e não convivo com a mentira. Cada parlamentar tem um número de assessores, cargos de confiança, que ele coloca onde quiser. Alguns preferem colocar esposas, filhos, genros, parentes.
Eu não faço isso. Eu já contratei alguns jogadores para serem meus assessores. Alguns até já deixaram o futebol e estão na minha cidade.
Quando fui presidente do Itumbiara eu fiz não só um clube de futebol. Eu fiz um departamento social. O futebol é a última arte popular. O Itumbiara enchia o estádio, trazia o povo. E nós dávamos uma festa para a comunidade carente que não tinha onde ir.
Então, eu contratei jogadores sim. E, se for presidente de novo e tiver cargos de confiança, e o cargo é para você colocar a pessoa onde você quiser, eu contratarei de novo. No meu tempo eu colocava as mulheres dos jogadores para trabalhar numa ação social, pegando os objetos que nós ganhávamos, as roupas usadas, e distribuindo para a sociedade carente.
Folha - O sr. contratava algumas delas pelo gabinete também?
Zé Gomes - Contratei, contratei para fazer esse trabalho social. Não é político. Tanto que eu trouxe aqui o Fluminense e o Atlético Mineiro e a entrada era um agasalho. E as mulheres dos jogadores faziam essa distribuição.
Folha - Quantas mulheres de jogadores o sr. contratou?
Zé Gomes - Nesses vários anos, umas seis pessoas.
Folha - O sr. contratou a maioria dos jogadores no início do ano e exonerou-os no final de março. Por quê? Havia mais dificuldade de manter o clube nesse período?
Zé Gomes - Não, talvez tenham sido substituídos por outros. Talvez o time tenha feito um bingo, arrecadado dinheiro, e não precisava mais. A gente colocava quando estava na fase final mesmo, com dificuldade de arrecadação.
Folha - Os jogadores trabalhavam só como jogadores profissionais?
Zé Gomes - E as mulheres na área social. O Waltinho (Walter Gabriel Santana), por exemplo, trabalhava na área social. É coordenador do Itumbiara. É do Itumbiara, trabalhou no meu gabinete. Desempenhou um papel social.
Folha - Que negócio o sr. tem?
Zé Gomes - Sou fazendeiro. Tenho lavoura de soja e gado nelore.
Folha - Quanto custa mensalmente manter o Itumbiara?
Zé Gomes - Uns R$ 35 mil por mês, em qualquer fase, jogando ou não jogando.

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