São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Prefeito não vê diferença entre os partidos

DO ENVIADO ESPECIAL

Dono do maior supermercado da cidade, um armazém de secos e molhados, uma casa de ferragens, dois postos de gasolina e outros bens, o prefeito de Catende (PE), Otacílio Cordeiro, está longe de se definir socialista.
Espírito de comerciante esperto e neoliberal por princípio, o prefeito é um dos tantos representantes da base do PSB no Nordeste que têm origem nos quadros do PFL do vice-presidente Marco Maciel.
Toda quarta-feira, o prefeito faz uma ação de "caridade" aos seus eleitores: distribui peixe congelado para a população. A fila chega a juntar 300 pessoas.
Para Cordeiro, a indigência é tão grande na região da Zona da Mata pernambucana que não há tempo para ensinar a pescar. "Temos que dar o peixe", diz. "Faço isso há muito tempo, pode até chamar de socialismo, mas eu fazia também quando era do PFL", completa, com ironia.
Na manhã da última quarta-feira, depois de distribuir o peixe com crianças e mulheres famintas, Cordeiro conversou com a Folha. Leia os principais trechos da entrevista:
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Folha - A que o senhor, que faz parte da base do partido, atribui o crescimento do PSB?
Otacílio Cordeiro - Tem crescido com o apoio do governador, que caiu na simpatia do povo. Ele tem prestado um serviço muito bom para a comunidade. Tem muito prestígio na Zona da Mata Sul, no Agreste e no Sertão, em Pernambuco.
Folha - Mas o governador enfrenta dificuldades para administrar, aparentemente não faz uma boa gestão. Isso não conta?
Cordeiro - O governador Arraes continua com o seu prestígio e nada abala o homem.
Folha - Há quanto tempo o senhor está nos quadros do PSB?
Cordeiro - Há praticamente um ano.
Folha - De que partido o senhor veio?
Cordeiro - Do PFL.
Folha - Quem convenceu o senhor para que houvesse essa mudança?
Cordeiro - Foi o governador. Ele mandou me chamar lá no Palácio do Campo das Princesas. Disse que o melhor para administrar Catende seria eu, então me filiei e fui candidato do partido à prefeitura. Uma coisa que ajudou foi o fato do governador ter resolvido o problema da usina de açúcar de Catende, que sustenta praticamente a população daqui. A usina estava falida e Arraes encontrou uma solução para fazê-la funcionar.
Folha - Antes do contato com Miguel Arraes, a quem o senhor era fiel e seguia na política de Pernambuco?
Cordeiro - A liderança da região era o deputado José Jorge. Eu apoiava ele aqui. É uma criatura muito boa.
Devido aos meus serviços prestados, eu gozo, graças a Deus, de um certo prestígio no município. Com isso ajudava o PFL.
Folha - O PSB é bem organizado na Zona da Mata? E o governador Arraes tem alguma chance eleitoral, embora as pesquisas digam o contrário?
Cordeiro - O PSB é muito bem estruturado, organizado, e o governo Arraes tem muito prestígio aqui. Não há a menor dúvida de que o governo ganha a eleição, seja quem for o candidato.
Caso seja o próprio Arraes, aí não tem nem graça, será governador de novo. Ele caiu na simpatia do povo, é bom para o povo, é uma pessoa humana, fácil de conversar.
Folha - Caso apareça outra proposta, o senhor pode mudar de partido?
Cordeiro - Na política é assim. Hoje você pode estar no PSB, mas amanhã muda o governo e a gente pode passar para o lado desse governo. Eu voto no homem, acredito no homem.
Folha - O que o sr. acha do socialismo do PSB?
Cordeiro - Eu prefiro acreditar nos homens. Eu só voto no homem. Só tem uma pessoa, um partido que eu não voto de jeito nenhum: é o PT, que acho uma estrela apagada.

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