São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Hospitais precários são obstáculo aos transplantes

DA FOLHA RIBEIRÃO

A precariedade dos hospitais brasileiros é o principal obstáculo para a "popularização" dos transplantes e da doação de órgãos.
É o que afirmam especialistas que participaram do simpósio comemorativo dos dez anos do Spit (São Paulo Interior Transplante), realizado no último final de semana em Ribeirão Preto (319 km ao norte de São Paulo).
Para eles, a falta de condições físicas compromete o aumento do número de transplantes.
"Em Botucatu (225 km a noroeste de São Paulo), temos dois leitos para transplantes. Se um paciente em estado grave ocupa um deles, não podemos fazer a operação", afirma o professor de nefrologia da Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Vitor Soares.
Segundo os especialistas presentes, a lei que transforma todo indivíduo em um doador de órgãos é desnecessária e pode até atrapalhar as famílias que têm intenção de fazer a doação.
Segundo Soares, antes da existência da lei, de 25% a 30% das famílias se recusavam a autorizar a doação de órgãos. Com a lei, ele acha que o índice de rejeição deve subir. "Ela é uma agressão às famílias que acabaram de perder uma pessoa querida", diz.
Segundo ele, a média de rejeição no país é semelhante à da Espanha. "As pessoas no Brasil doam seus órgãos sem maiores problemas."
Para Volneu Garrafa, professor de bioética da UnB (universidade de Brasília), a nova lei não dá o respaldo ético para um transplante sem o consentimento da família.
"A lei desconsiderou este aspecto. Somos um país cristão e, pior, a maioria da população não é bem informada a respeito do assunto."
A Folha procurou o Ministério da Saúde no sábado à tarde para falar sobre a nova lei e a condição dos hospitais brasileiros, mas não obteve resposta.

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