São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Com anteprojeto Pelé, voltaremos às cavernas

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Bem que andava sentindo um cheiro de arroz queimado nessa história do anteprojeto Pelé para o futebol. Dado à luz por esta Folha, anteontem, o que restou da tão decantada modernização do futebol brasileiro a que se propunha?
Tudo bem espremidinho, a extinção da Lei do Passe, em dois anos -o que é um grande avanço. Ah, sim, maior controle por parte do fisco das entradas e saídas de dinheiro dos clubes, o que é justo. Em contrapartida, uma monumental estultice: a volta do sistema de voto unitário para a eleição de presidentes de federações e confederação, um anacronismo que a Lei Zico havia removido, depois de longa e extenuante luta.
Sim, porque no cerne de todas essas mazelas do nosso futebol está o voto unitário, tática perfeita para serem eleitos e perpetuados os piores, que, a partir daí, tratam de sangrar os grandes clubes em benefício dos pequenos, achatando tudo ao nível do rés-do-chão.
Sem passe, com o Leão solto e o voto unitário -uma combinação letal para os clubes, que ficarão sem nenhuma expectativa de receita, mas tendo de estar com suas contas em dia-, não avançaremos um milímetro em direção à chamada modernidade. Ao contrário: voltaremos às cavernas.
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O empate de 2 a 2 com o Botafogo, sábado à noite, deixou às claras o maior problema tricolor, além da ausência de um craque em cada uma destas posições (no mínimo) lateral direita, zaga central e meia direita: a falta de confiança do time, que perde uma infinidade de gols feitos e acaba sempre tomando aquele fatal. O resto dá para cobrir com os que lá estão, desde que Dario efetive esse menino Alexandre como segundo volante e Reinaldo na meia.
Por fim, um ramo de arruda atrás da orelha até que comporia um bom layout para esse campeão em gols perdidos.
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E o Palmeiras que sucumbiu por 2 a 1 diante do Braga, num jogo em que me revelou o centroavante Márcio, autor do segundo gol, um primor de equilíbrio, visão e técnica?
Está mais para um Palmeiras em decomposição do que para um novo Grêmio em gestação. Mas dá pra chegar lá.
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Quero prestar uma longa e cerimoniosa reverência a esse técnico holandês do Barça, Van Gaal. Pois não é que o homem simplesmente aboliu todos os cabeças-de-bagre (ops, cabeças-de-área) da equipe?
Postou o menino De La Peña no meio-campo, como um sábio centromédio dos velhos tempos, e soltou Luis Enrique para atacar com Dugarry, Rivaldo, Ânderson e Figo, todos atacantes por vocação. E isso diante de um La Coruña que tinha por ali Djalminha, Flávio Conceição, Luizão e cia.
Merece uma estátua encomendada pelos verdadeiros amantes do futebol.
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Não vi o Corinthians perder para a Lusa, mas ouvi o Joel reclamar, depois do jogo. Pela primeira vez, em mais de meio século de vida, soube que um juiz roubou do Corinthians para dar à Lusa. Só vendo.
O que vi foi o Santos desperdiçando dez gols para fazer 2 a 1, no último minuto, no Coritiba, na Vila, de virada.

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