São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Short é o melhor cantor de bar do mundo

DAVID DREW ZINGG
COLUNISTA DA FOLHA

"You know who's in town -we's in town!"
resplandecente no smoking -que é seu uniforme-, Bobby Short atira sua apresentação à platéia e se levanta, batendo forte nas teclas do piano.
É o começo e o fim de qualquer semelhança entre esse elegante cavalheiro e Little Richard.
Se você é um dos poucos sortudos que têm ingressos para o show beneficente de Bobby Short na Hebraica, hoje, pode cumprir seus deveres do dia ostentando um sorriso de parabéns a você mesmo.
Você vai ouvir um talento musical pop realmente singular. É que Bobby Short é simplesmente o melhor cantor de bar do mundo.
Embora o jeito que Bobby Short possui para cantar os clássicos pop da Gringolândia seja inquestionável, quase todos os integrantes de sua geração de intérpretes de canções íntimas de bar já foram desta para melhor.
Short só poderia ser bom -afinal, ele vem se aperfeiçoando desde os 12 anos de idade, quando começou sua carreira formal no show business em Chicago. Naquela época, quando era um cantor infantil talentoso no circuito do vaudeville, era conhecido como "o rei mirim do swing".
A apresentação de Bobby nesta segunda à noite também marca seu aniversário. Não vou contar exatamente quantas velinhas ele vai apagar, mas o fato é que ele vem se apresentando há uns 60 anos. Faça a conta você mesmo.
Cafe Carlyle em Sampa
O Cafe Carlyle, na Upper East Side de Nova York, é o lar musical de Bobby Short há alguns anos. Para o deleite de um grupo de fãs, é lá que ele passa o outono e a primavera, todos os anos, trabalhando com um trio ou uma orquestra.
Já faz 30 anos que Bobby Short se apresenta nessa casa fantástica. É ali que ele mostra por que virou uma instituição nova-iorquina.
Uma de suas temporadas recentes mereceu o seguinte comentário do "The New York Times": "Entre as qualidades de Bobby Short figuram seu gosto impecável em matéria de canções e um faro especial para encontrar jóias pouco conhecidas de Cole Porter. Seu enunciado é cristalino, e seu estilo singular ao teclado infunde o piano society tradicional com a animação jovial de um vaudeville no Harlem". A revista "Time" acrescentou: "Em um mundo cada vez mais deselegante, Bobby Short é o próprio símbolo do estilo e de um modo de vida mais refinado".
O que é que faz Bobby Short destacar-se em seu campo de atuação? Uma combinação de quatro elementos. O primeiro, e mais importante, é a seleção das canções que ele apresenta.
Existe um grande repertório de canções que dão a impressão de terem sido escritas sob encomenda para Short. Quase todas são as "canções menores" que apareceram em shows, mas nunca figuraram nas listas das Dez Mais.
Um exemplo perfeito delas é uma canção de Cole Porter, cantada pela primeira vez por Fred Astaire, em 1932, no musical da Broadway "The Gay Divorcee". É um dos sucessos de Bobby Short no Cafe Carlyle.
Um cantor de bar como Bobby Short lhe dá a sensação de que existe amor escondido nas sombras. Ele canta canções de amor de uma maneira que faz você sentir que elas foram todas escritas para celebrar "aquela que se foi", segundo elemento essencial ao cantor de bar.
Short, cuja voz está longe de ser um instrumento perfeito, transmite a sensação de que ele já esteve lá, já fez aquilo.
O terceiro elemento que compõe o "saloon singer" é o local. O Cafe Carlyle, em Nova York, preenche todos esses requisitos. É silencioso, bastante escuro e repleto de frequentadores habituais que vão ao lugar sempre, para ouvir as mesmas canções e sentir as mesmas emoções, ao mesmo tempo doces e amargas.
O último elemento é a platéia certa. A platéia precisa ser uma imagem espelhada do cantor, em termos de experiência de vida. É preciso que tenhamos sido abalados pelos rigores de um amor não correspondido.
Será que existe uma teoria Bobby Short de como lidar com uma grande canção? "Não me vejo tentando modificar uma grande canção de Cole Porter ou Richard Rogers", diz ele. "Não há razão para experimentá-la de trás para diante, com barba ou disfarce. Faça do jeito que o sujeito a escreveu."
Nessas palavras você já tem uma prévia da apresentação de Short nesta segunda, em São Paulo.

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