São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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Redes mundiais geram formas inteligentes de vida

DO "USA TODAY"

Rede de computadores geram formas inteleigentes de vida
Comentado por toda a intelligentsia do mundo da informática, "Darwin Among the Machines" (Darwin Entre as Máquinas) é um livro superinteressante, escrito por um autor inusitado.
George Dyson, o autor, constrói caiaques e é famoso entre os praticantes desse esporte. Por acaso, também é o irmão um ano e meio mais jovem de Esther Dyson, célebre comentarista da indústria dos computadores pessoais. Mas isso é mera coincidência.
Ele começou o livro sabendo tanto sobre computadores quanto Esther sabe sobre construir caiaques -ou seja, pouco.
Mas ele usava um computador para projetar caiaques. E, em suas palavras, "não gosto de usar algo que não entendo completamente. Isso faz parte de minha natureza".
Assim, há quatro anos, mais ou menos, pediram que escrevesse um artigo para uma revista japonesa. Dyson aproveitou a oportunidade para explorar sua curiosidade sobre os computadores.
Escreveu sobre como foi crescer em torno do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Princeton e brincar com o casco abandonado de um computador experimental dos mais antigos, comparando-o com as novas máquinas.
Publicado o artigo, Dyson o enviou a um agente que conhecera por intermédio de Esther. "O agente disse: 'Me mande uma proposta por fax. Posso vender o que você escrever"', conta Dyson.
O livro que saiu dessa proposta é diferente de qualquer outro que já tenha feito sucesso no mundo dos negócios. Para compreender o futuro do computador, Dyson olha para o passado -muito distante.
O protagonista de seu livro não é tanto Charles Darwin, mas seu avô, Erasmus Darwin, e um teórico chamado Samuel Butler, que levou a teoria da evolução alguns passos à frente do que a maioria dos estudiosos queria que fosse.
Gepeto e Pinóquio
As teorias de Butler -especialmente quando explicadas e ampliadas por Dyson- mostram que não há razão pela qual os computadores não possam evoluir, transformando-se em formas de vida inteligente.
Dá para imaginar o efeito disso sobre um programador? É como dizer a Gepeto que ele vai acordar um belo dia e ver Pinóquio chamando-o de papai.
Na década de 1870, quando a teoria da evolução de Charles Darwin ganhou ampla aceitação, Butler escreveu: "A raça humana descendeu de coisas que não possuíam nenhuma consciência. Nesse caso, não é improvável, a priori, que as máquinas hoje existentes possam ter como descendentes máquinas conscientes (e mais do que conscientes)".
A seguir, Butler afirmou que talvez os seres humanos não sejam a forma de vida mais inteligente no planeta, mas que todos os humanos, juntos, compõem uma única inteligência do mais alto nível -assim como as formigas numa colônia funcionam como um único ser inteligente.
Dyson prossegue a partir desse ponto, misturando a seu argumento avanços como a Internet e a computação distribuída.
Rede consciente
Se Butler estiver certo, ele conclui, talvez seja verdade que um computador isolado não é capaz de "pensar" -mas uma rede de computadores, todos desempenhando tarefas diferentes, compartilhando informações e ajudando-se, poderia ganhar vida e assumir uma consciência própria.
Em defesa de sua tese, Dyson recorre a conceitos formulados pelos primeiros pensadores do mundo a tecer teorias sobre máquinas.
Alguns são amplamente conhecidos, como Charles Babbage, inventor do "motor analítico" mecânico, no final do século 18. Outros, nem tanto.
"Minha intenção foi apresentar idéias e frisar que essa conversa sobre máquinas inteligentes não é novidade", diz Dyson. "Me irrita quando alguém apresenta uma idéia e diz que ela é inédita, quando já foi aventada há 200 anos."
Sob muitos aspectos, o livro é fascinante. Minha única queixa é que George Dyson, enquanto escritor, é um ótimo construtor de caiaques. Suas idéias interessantes acabam soterradas debaixo de um monte de intelectualês pomposo.
Outros livros não estão nos seus planos. "Daqui a dez anos, quem sabe?" Até lá, talvez os computadores já consigam ler seu livro e dar seus próprios palpites.

Tradução de Clara Allain.

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