São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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MUDANÇA NA CÚPULA DA PM

No governo Fleury, a PM paulista bateu recordes de selvageria. O número de homicídios cometidos por policiais militares passou do milhar anual. Em 1991, a PM chegou a ser responsável por cerca de 25% dos assassinatos em São Paulo. Foi preciso uma demonstração de barbárie concentrada, as 111 mortes do Carandiru, e a indignação até internacional para que a corporação tirasse o dedo do gatilho. No último ano de Fleury, 1994, a PM matava na casa das três centenas. Em 1996, sob Covas e com um programa de recuperação de PMs, os mortos da polícia foram 183.
Esta Folha vem criticando o fato de o governador tolerar oficiais insubordinados, lenientes com violências várias, e que, segundo o próprio Covas, o sabotam. No entanto, as estatísticas mostram que houve na verdade o fim de algo semelhante a um estado de guerra. A diminuição da violência policial era mais do que esperada em um governo com figuras de fato comprometidas com a defesa dos direitos humanos, tais como Covas e outros membros de sua equipe. Infelizmente, cumpre dizer que se esperava ainda mais.
A demissão do comandante da Polícia Militar e a tentativa de reestruturação da cúpula policial veio tarde. Lamentavelmente há dificuldades administrativas para remover coronéis. Melhor que tenha havido alguma mudança, mas Covas sabia que começava seu governo com um comando herdado de Fleury, o coronelato da polícia do Carandiru, perspectiva certa de problemas.
A reforma da polícia nem de longe é apenas tarefa de Covas. No entanto, o governador já poderia iniciar um programa mais amplo de mudanças, por exemplo alterando a formação dos jovens oficiais e expurgando a PM de insubordinados e transgressores dos direitos humanos.
De resto, cabe lembrar ainda que a disciplina é apenas um dos aspectos da questão policial. Como também admite o próprio secretário da Segurança, José Afonso da Silva, a desproteção dos cidadãos vem aumentando na proporção direta da falta de policiamento e da inação policial. Na discussão sobre como colocar a corporação na linha, o fundamental é o debate sobre o aumento da segurança. Essa é a questão urgente.

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