São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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Brasil e Ásia

ANTONIO DELFIM NETTO

A crise que se abateu sobre algumas moedas asiáticas começou com o baht tailandês e, como uma onda sonora, foi atingindo as moedas da Indonésia, Malásia e Filipinas. Ela terá, certamente, muitas explicações. Os economistas têm construído modelos sucessivos para entender os "ataques especulativos" que atingem algumas moedas num mundo em que a maioria dos países utiliza o sistema de câmbio flutuante, mas tenta manter com seus parceiros mais importantes uma espécie de câmbio relativamente fixo.
Um fato parece certo: nem mesmo as moedas que estão intimamente ligadas dentro do que se supõe uma "área monetária ótima" (câmbio relativamente fixo entre elas, livre movimento de mão-de-obra e capital e flexibilidade de preços e salários), como é quase o caso do Sistema Monetário Europeu, estão imunes a tais ataques. A prova disso foi o ataque de 1992 à libra inglesa, à peseta espanhola e à lira italiana, que obrigou a Inglaterra e a Itália a abandonarem o sistema.
Aparentemente existem duas condições necessárias, mas não suficientes, para que o ataque se verifique e seja bem sucedido: 1) a percepção clara de que a taxa de câmbio está sobrevalorizada, produzindo déficits em conta corrente elevados devido ao crescimento preguiçoso das exportações e 2) a percepção clara de que a moeda não pode ser defendida por uma substancial elevação da taxa de juros porque isso produziria a instabilidade do sistema bancário, imporia custos imensos ao setor produtivo e destruiria ou acentuaria o desequilíbrio fiscal pelo pagamento dos juros do estoque da dívida interna.
No caso das economias asiáticas esses fatores estavam presentes em doses diferentes. A crise se originou na Tailândia devido à violenta queda das exportações concentradas em produtos eletrônicos. Os preços desses produtos desabaram devido à redução do ritmo de crescimento da demanda, combinado com um enorme excesso de capacidade produtiva construída a partir de expectativas de demanda que não se concretizaram.
Foi esse fato que colocou sob suspeita o enorme déficit em conta corrente da Tailândia. Até então, ele não inquietava os investidores, uma vez que era utilizado para financiar investimentos. Mas por que, então, as outras moedas (cujos fundamentais pareciam corretos) foram atacadas?
A explicação, provavelmente, é a seguinte: os quatro países asiáticos competem em mercados parecidos, com produtos semelhantes, o que significa que a capacidade de exportação de cada país está ligada à flutuação da moeda dos outros. No período 1981-94, as variações do baht "explicam" mais de 90% das variações das moedas da Indonésia, Malásia e Filipinas.
É claro que os operadores do mercado tinham a percepção de que mais cedo ou mais tarde o desequilíbrio tailandês iria produzir efeitos nos seus competidores, a não ser que eles também ajustassem as suas moedas. Isso explica, também, por que os efeitos sobre economias como a brasileira, por exemplo, são de menor intensidade e se farão sentir mais lentamente, destruindo nossa competitividade nos mercados em que concorremos com os asiáticos.

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