São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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SUS faz 400 mil cesáreas desnecessárias

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A rede pública de saúde realiza cerca de 400 mil cesarianas desnecessárias por ano a um custo estimado em R$ 83 milhões. A conclusão é de uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgada ontem pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
A pesquisa, coordenada pela médica Lynn Silver, analisou cerca de 700 mil internações, feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre dezembro de 94 e fevereiro de 95. De cada cem partos, 32 foram realizados por cesárea. Nos serviços privados, a taxa passa de 80%.
Para estimar o número de cesarianas desnecessárias na rede pública, Lynn considerou que as taxas adotadas por serviços internacionais variam de 12% a 20% do total de partos. As "perdas" consideraram o irrisório valor de R$ 80,00, que o SUS paga por uma cesárea, sem levar em conta o período de internação e possíveis complicações da cesárea.
Enquanto um parto natural exige internação de 24 horas, uma cesárea precisa de três dias.
Pela pesquisa da Fiocruz, Mato Grosso do Sul aparece com 50% de cesáreas na rede pública, contra 41% em São Paulo.
Em pelo menos cinco municípios listados, mais de 95% dos partos são por cesárea. Na cidade de Belém, na Paraíba, a maternidade local não fez um único parto natural no período estudado.
Na cidade de São Paulo, entre os conveniados pelo SUS, o hospital Nossa Senhora da Penha teve índice de cesarianas de 83,7%.
Simone Diniz, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, diz que os obstetras, além de optarem pela cesárea, ainda insistem em procedimentos condenados há décadas. Entre eles estão o esvaziamento do intestino antes do parto, a raspagem dos pelos pubianos e o corte da vulva para, supostamente, facilitar a saída do bebê.
Ao manter a mulher deitada sobre uma cama, os médicos simplesmente dificultam as contrações e a saída do bebê, diz o médico Hugo Sabatino, da Unicamp.
"Hospitais e médicos se organizam para fazer cesáreas", diz Anna Volochko, do Instituto de Saúde. "Em uma manhã, um obstetra realiza até oito cesarianas agendadas."

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