São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Americana" vai ao "Raul Gil"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Disposta a conquistar parcelas do público que até hoje desconhecem sua existência, Daúde enfrentou na última semana platéia, convidados e apresentador do programa "Raul Gil", exibido aos sábados pela Rede Manchete.
"A música da Miriam Makeba remete a auditório, é muito Chacrinha. Eu mesma, quando era pequena, adorava as roupas das chacretes, ficava prestando atenção."
A cantora dividiu camarins com artistas de segmentos distantes do seu, como Deborah Blando, Agnaldo Rayol, Marcelo Augusto, Dominó, Simony, Oswaldo Montenegro, Boquinha da Garrafa, Os Morenos e Fabiana.
Ao chegar, enfrentou a produtora do programa, que não lhe dirigiu palavra e, após perguntar a um assessor que língua ela falava, veio afinal cumprimentá-la: "Desculpa, não falei com você porque pensei que fosse americana".
Peixe meio fora d'água, Daúde só se descontraiu ao se ver diante do forrozeiro Genival Lacerda. "Seu Genival, eu sou sua fã!", disse, abraçando-o. Ele não demonstrou conhecê-la.
"É um artista que admiro desde pequena, agora encontro ele aqui. É como ser sua colega sem ser. É o mesmo se passasse Luiz Gonzaga, Dominguinhos ou David Bowie", disse Daúde.
Por sua vez, os bailarinos adolescentes da cantora country Neide Ribeiro se agruparam ao seu redor, dizendo-se fãs de sua música e pedindo fotos e autógrafos.
Em seguida foi a vez dos Morenos (que mais tarde cantariam "Marrom Bombom" no auditório), outros dos poucos que a reconheceram.
"Eu cantava em boate e os conhecia de lá, onde imitavam Michael Jackson. Nós nos reencontramos no programa da Ana Maria Braga", contou.
Fila de espera
"Não é fácil fazer programas populares. Há muitos artistas à espera de se apresentar, agendas tomadas. Mas os próprios programas estão se mostrando mais flexíveis em relação à música que não é tão imediata, tão popular."
A relação com programas como os de Faustão e Gugu é mais complicada. "Lá há o compromisso com o Ibope. Tenho que ser mais ouvida, ter meus discos nas lojas para chegar ao 'Faustão'."
"Sinto prazer em fazer esses programas. Até há algum tempo, achava que não devia. Hoje, faço com toda a dignidade, sem nenhum preconceito. O Chacrinha era isso, e Caetano ia, Roberto Carlos ia."
Ela não garante que queira continuar sempre a fazer. "Daqui a dez anos, provavelmente não vou querer mais, vou querer ficar em casa, quieta, tranquila."
Após cerca de quatro horas à espera no camarim, afinal a produção chamou a cantora ao backstage. Raul foi até ela e pediu um breve histórico profissional, demonstrando não conhecê-la.
Então a apresentou: "É a primeira vez que ela vem aqui, mas é um grande destaque da MPB, que veio trazer música para o povão. Com vocês, uma das mais aplaudidas cantoras de MPB". As fãs gritaram: "Deborah Blando!".
À saída, Daúde comentou a reação do público, quase totalmente de mulheres. "É um nível diferente de exigência. São atentas, prestam atenção não só na música, mas no refrão, na bota, no cabelo." Era hora de ir embora.
(PAS)

Texto Anterior: DAÚDE COMENTA "#2" FAIXA A FAIXA
Próximo Texto: "Bar doce Bar" volta a SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.