São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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Fujimori está 'embriagado' pelo poder

Afirmação é de empresário de TV

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Baruch Ivcher, 57, dono da rede de TV Frecuencia Latina, acusa o presidente do Peru, Alberto Fujimori, de persegui-lo politicamente por causa de denúncias contra o governo veiculadas em sua emissora, a segunda em audiência no país.
Segundo Ivcher, que tem origem israelense e teve sua nacionalidade peruana, concedida em 84, cassada em julho último pelo governo, Fujimori quer continuar no poder e, para conseguir isso, tirará qualquer pessoa de seu caminho.
Na última segunda-feira, a Corte Superior de Lima confirmou a perda da cidadania de Ivcher e transferiu para seus sócios, Mendel e Samuel Winter, o controle da TV. De acordo com a legislação peruana, estrangeiros não podem controlar meios de comunicação.
Leia entrevista concedida à Folha por telefone, de Miami, nos Estados Unidos.
Folha - Por que o governo do Peru cassou sua nacionalidade?
Baruch Ivcher - Sem a nacionalidade peruana, eu perco o controle sobre a rede de TV Frecuencia Latina. Depois que conquistou o segundo mandato, Fujimori ficou embriagado e não quer mais deixar o poder. Qualquer pessoa que se colocar em seu caminho sofrerá a mesma perseguição que estou sofrendo. Os outros meios de comunicação estão com medo. É um clima de terror.
Folha - Quando começaram seus problemas com o presidente Alberto Fujimori?
Ivcher - Em janeiro passado, o então presidente do Congresso Nacional do Peru, Victor Joy Way, praticamente me ofereceu cerca de US$ 15 milhões em publicidade desde que eu concordasse com a censura prévia na minha televisão. Disse a ele que consciência não se compra com dinheiro.
Folha - Que denúncias a TV fez contra o governo?
Ivcher - Em abril, noticiamos que uma agente do serviço de inteligência do Exército havia sido morta e outra tinha sido assassinada. Elas teriam revelado detalhes sobre um plano secreto para assassinar o jornalista peruano Cesar Hildebrandt.
Em maio, fizemos denúncias de corrupção contra Vladimiro Montesinos, um dos principais assessores de Fujimori. A partir daí, passei a ser seguido o tempo inteiro por agentes de segurança. Então, o comando conjunto das Forças Armadas divulgou um comunicado no qual dizia que eu estava utilizando a rede de TV para desprestigiar as Forças Armadas.
Em julho, revelamos um esquema de escuta telefônica em 197 linhas pertencentes a políticos, jornalistas e artistas. Horas depois, o diário oficial do governo, "El Peruano", publicou uma decisão do Ministério do Interior cassando minha nacionalidade.
Folha - Com qual argumento?
Ivcher - O governo diz que quando me nacionalizei peruano, em dezembro de 84, não renunciei à cidadania israelense. Mas o próprio presidente na época, Fernando Belaunde Terry, declarou que estava tudo correto.
Folha - Qual é a linha editorial da rede de TV Frecuencia Latina?
Ivcher - É uma emissora independente. Nós apoiamos Fujimori nos primeiros anos. Ele recebeu um país destroçado do ponto de vista econômico e social, dominado pelo terrorismo. Só começamos a criticá-lo quando não cumpriu a promessa de moralizar o país.
Folha - Qual foi a posição da TV por ocasião do autogolpe de Fujimori em 1992?
Ivcher - Eu estava fora do país. Meu sócio Mendel Winter participou da reunião convocada por Fujimori e apoiou o golpe.
Folha - Os seus sócios, os irmãos Mendel e Samuel Winter, estão contra o sr.?
Ivcher - Eles estão do lado do governo, acho que por pressão. O governo quer mostrar que é uma briga de sócios.
Folha - Em julho passado, uma revista disse que Fujimori teria nascido no Peru e não teria direito a ocupar a Presidência do país. O que o sr. acha disso?
Ivcher - O escritor Mario Vargas Llosa, adversário de Fujimori, disse que o presidente era peruano porque vivia no Peru, agia como peruano, comia como peruano. Achei correto. Só que há uma lei para o cidadão Alberto Fujimori e outra lei para o cidadão Baruch Ivcher.

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