São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 1997
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Situação é pior que em 64, diz fazendeiro

BRUNO BLECHER

BRUNO BLECHER; SEBASTIÃO NASCIMENTO
EDITOR DO AGROFOLHA

SEBASTIÃO NASCIMENTO
"A violência no campo está fora de controle. Por muito menos do que isso, o Brasil amargou 20 anos de ditadura. Hoje a situação está bem pior do que em 64", disse ontem à Folha, por telefone, de Uberaba (MG), o fazendeiro William Koury, 55, coordenador do Movimento Nacional dos Produtores.
A entidade, criada este ano em Uberaba (MG), conta com seis núcleos espalhados pelo país e se propõe a "defender os proprietários das invasões dos sem-terra".
"Não existe ocupação de fazendas, como a imprensa divulga. O que acontece são invasões. Quando existe uma agressão à propriedade privada, derrubam-se cercas, quebram-se porteiras, a lei está sendo transgredida", disse Koury.
Ele responsabilizou o governador Jaime Lerner, do Paraná, pelos conflitos envolvendo fazendeiros e sem-terra ocorridos no Estado.
"O governador não cumpriu o que foi determinado pela Justiça. Nos últimos três anos, 40 liminares de reintegração de posse deixaram de ser cumpridas no Estado, porque Lerner não acionou a Polícia Militar", afirmou o fazendeiro.
Segundo ele, o governo faz os sem-terra acreditarem que estão acima da lei.
"Isso é perigoso e acaba provocando reações como a daqueles fazendeiros do Paraná, que na semana passada retomaram uma fazenda invadida pelo MST."
Ele considera correta a atitude dos produtores. "Quem não defende o que é seu não merece o que tem", afirmou.
Koury disse que o movimento não prega a violência, mas acredita que "os proprietários rurais devam defender o seu patrimônio".
O Movimento Nacional dos Produtores está programando para outubro próximo um leilão de gado em Campo Grande (MS).
"O dinheiro será utilizado para defender fazendeiros que tiveram propriedades invadidas", disse.
Ele descartou, porém, que a arrecadação possa vir a ser empregada na compra de armas. "Queremos continuar a agir dentro da lei, mas isso pode se tornar impossível."
Koury afirmou que o movimento não recomenda a seus associados a contratação de seguranças para defender as fazendas. "Mas não acho isso errado", disse.

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