São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 1997 |
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"Sonatine" desvenda o Japão sombrio
AMIR LABAKI
"Hana-bi" consagra o talento que "Sonatine" revelou. Não foi à toa que o quarto filme de Kitano foi a mais recente produção a figurar entre os clássicos dos 100 anos do cinema japonês na pesquisa especial realizada pelo Festival de Tóquio há dois anos. A obra de Kitano traz uma sombria reflexão sobre o Japão contemporâneo. Seu universo principal gira em torno da "yakuza", a máfia nipônica. É semelhante ao dos filmes de Juzo Itami. A diferença é o acento: cômico em Itami, trágico em Kitano. Kitano é o típico "one-man show". "Sonatine" foi por ele escrito, dirigido, montado e estrelado. Seja gângster ou policial, sua persona fílmica é a mesma, misto de Clint Eastwood e Toshiro Mifune, cético, lacônico e decidido. Já seu estilo como diretor é outra curiosa mescla, algo como o improvável cruzamento entre Antonioni e Tarantino, ou Bresson e John Woo. Quem pensou em Brian De Palma chegou perto. Em "Sonatine", Kitano é Murakawa, um violento e entediado líder de gangue. O mito do indestrutível chefão yakuza vem abaixo. Desde o início, sabe-se que, vencendo ou perdendo na tarefa que aceitou, no caso acabar com uma guerra de grupos rivais em Okinawa, Murakawa está marcado para morrer. Não surpreende, assim, que a cena que sintetiza o filme seja aquela em que se diverte numa roleta-russa com seus subordinados. No intervalo dos confrontos, Murakawa refugia sua turma numa casa de praia. Para passar o tempo, recriam jogos tradicionais, ensaiam danças clássicas, travam guerras de fogos de artifício. Curiosamente essas pausas são apresentadas sob o mesmo estilo coreográfico das explosões de violência. É como se Eros e Tânatos fossem uma mesma coisa. O tempo que dedica a elas, Kitano subtrai da narração da trama. O convite à gangue, sua viagem e atuação, a progressiva descoberta dos bastidores da guerra são quase telegraficamente apresentados. Kitano recorre à elipse para desenvolver o entrecho policial visando se deter no que efetivamente o interessa: a encenação dos rituais de vida e de morte. Cai então a máscara, e DePalma encontra Mishima. Filme: Sonatine Produção: Japão, 1993 Direção: Takeshi Kitano Onde: a partir de hoje no Cinesesc Texto Anterior: Abujamra lê Pessoa ao som de fado Próximo Texto: Fama como ator veio primeiro Índice |
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