São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 1997
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Déficit do Brasil preocupa os banqueiros

CELSO PINTO
DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

O Brasil está sujeito a um ataque especulativo contra sua moeda, a exemplo do que aconteceu na Ásia?
"Existe uma possibilidade de que isso aconteça", disse à Folha Mark Mobius, um dos mais festejados investidores internacionais, que administra US$ 15 bilhões no fundo Templeton, dos quais US$ 2 bilhões estão investidos no Brasil.
O real está sobrevalorizado e "provavelmente seria uma boa idéia deixar o câmbio flutuar livremente".
Outra idéia que Mobius acha que faria sentido seria fazer um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Não porque o Brasil precise, mas porque daria mais segurança aos investidores.
Melhor seria fazer isso agora, quando o país está numa posição forte, do que quando for tarde demais.
Programa de privatização
O ponto crítico para manter a confiança dos mercados, a seu ver, é manter o programa de privatização caminhando.
Mobius foi um dos 400 banqueiros e investidores presentes ontem a um seminário realizado pela mais importante organização de banqueiros internacionais, o IFI (Instituto de Finanças Internacionais). As lições da Ásia e os riscos que ficam foram os temas das discussões.
Áreas de preocupação
Um dos vice-presidentes do IFI e do Citibank, Bill Rhodes, ex-negociador da dívida brasileira, falando à imprensa depois do encontro, disse que existem duas áreas de preocupação em relação ao Brasil -os déficits externo e público- sobre as quais é preciso não ser complacente.
Rhodes acredita, contudo, que o governo brasileiro vem tomando as medidas necessárias, inclusive mantendo uma política cambial flexível.
Para Bill Rhodes, o Brasil já fez muita coisa, mas é importante que avance nas reformas estruturais.
"O Brasil mostrou que pode ter problemas, mas que pode resolvê-los", disse Rhodes.
O IFI monitora países emergentes para os 275 bancos afiliados e faz recomendações.
Georges Blum, presidente do instituto e do Swiss Bank Corp., argumenta que inúmeros alertas foram feitos sobre a Tailândia, desde o ano de 1994, sem efeitos práticos.
Tailândia
Charles Dallara, diretor executivo do IFI, acha que é cedo para dizer que o pior já passou na Tailândia. A seu ver, os próximos 60 a 90 dias serão cruciais.
Se o governo tailandês der passos concretos para implementar as medidas prescritas no acordo com o FMI, pode começar a refazer a confiança.
Segundo Dallara, a recuperação da economia da Tailândia, contudo, vai levar muito mais tempo.
O ministro da Fazenda da Tailândia, Thanong Bidaya, fez um longo discurso no seminário do IFI tentando convencer a platéia que o acordo será implementado. Mesmo se cair o atual governo, sujeito a um voto de confiança do parlamento.
Por uma razão, "se não implementarmos o programa do FMI, vai haver um colapso", afirmou Bidaya.
Ricos demais
O ministro tailandês foi humilde ao reconhecer os erros cometidos. "Ficamos ricos demais, rápido demais", disse.
A bolha especulativa que inflou os preços dos ativos e levou ao excesso de empréstimos imobiliários foi percebida, "mas, quando se está em meio a uma bolha deste tipo, é difícil parar".
O ministro da Fazenda da Tailândia admitiu que seu país tomou dinheiro demais de curto prazo, usado mais com fins especulativos do que produtivos.

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