São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 1997
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Importado rege setor de instrumento

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCA

Se é bom poder tocar um instrumento, como disse o compositor Caetano Veloso, parece ser melhor ainda se ele for importado.
É isso o que sugere o perfil do consumo de equipamentos musicais, onde o produto estrangeiro tem participação crescente.
Desde a abertura comercial no início dos anos 90, instrumentos da China, Coréia, Europa e EUA invadiram o país e tomaram conta do mercado.
Nenhuma faixa de produtos escapou da concorrência. Os instrumentos europeus, japoneses e norte-americanos trouxeram qualidade e tecnologia. Os chineses e outros asiáticos, preço.
Fábricas fecham
Muitas fábricas fecharam e o que era praticamente um mercado cativo para os produtores brasileiros passou a ser dominado pelos importados, que respondem hoje por cerca de 70% das vendas.
Mas a abertura trouxe também uma explosão do consumo. Entre 88 e 97, o mercado formal cresceu mais de dez vezes. Saltou de um patamar de vendas de US$ 25 milhões para US$ 280 milhões. O ritmo de crescimento é de cerca de 10% ao ano.
Essa expansão do mercado tem uma explicação simples. Até 92, os instrumentos musicais eram classificados como "supérfluos" pelo então Decex (Departamento de Comércio Exterior). Eram, portanto, submetidos a cotas de importação, de cerca de US$ 10 mil por pessoa. A cota pequena e a burocracia desestimulavam as encomendas.
Em um ambiente sem concorrência, proliferaram o contrabando e os equipamentos de qualidade ruim e preços altos.
Queda de preços
"A abertura possibilitou a queda de preços e a popularização do consumo de instrumentos, antes restrito ao meio profissional", afirma Lucas Shirahata, presidente da Abemúsica, associação que reúne fabricantes e importadores.
A própria associação é um reflexo da importância atual dos importados. Além de presidente da Abemúsica, Shirahata é diretor da Holland, uma das maiores importadoras do país.
Qualidade
A entrada dos importados obrigou a indústria nacional a se adaptar aos padrões internacionais. Quem sobrou foi obrigado a reduzir custos e investir na qualidade.
Edson Torres, presidente da Ciclotron, que produz equipamentos eletrônicos -os que mais sofreram com a concorrência-, afirma ter investido US$ 10 milhões nos últimos seis anos para aperfeiçoar o processo de produção de sua fábrica.
O resultado, segundo ele, foi que seu mercado cresceu 200%. "Não sei se foi a estabilidade dos últimos três anos ou se passamos a atender os clientes das pequenas fábricas que fecharam depois da abertura", diz Torres, que espera faturar US$ 25 milhões em 97.
Pequeno
No entanto, apesar da escalada do consumo e da reconhecida musicalidade do povo, o Brasil ainda é um mercado modesto.
Somados o consumo oficial e o contrabando, o mercado no país corresponde a cerca de US$ 480 milhões por ano. É mais ou menos o que se comercializada na Espanha (US$ 500 milhões), país com uma população quatro vezes menor. No Japão, o comércio de instrumentos beira os US$ 2,2 bilhões. Nos EUA, chega a US$ 5,6 bilhões.
Para Shirahata, uma das causas para o pequeno consumo de equipamentos é a falta de uma política cultural. "A música não faz parte do ensino escolar e as pessoas não são estimuladas a aprender a tocar algum instrumento."

LEIA MAIS sobre o mercado de instrumentos na pág. 2-8

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