São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 1997
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É impossível não amar as Spice Girls

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Elas dão tudo, tudo em nome da alegria, juram que é verdade. E a gente acredita.
Estamos falando das Spice Girls, o grupo mais comercial do mundo e, de alguma maneira, o mais adorável também.
As SG são herdeiras diretas do Shampoo, aquela dupla descompromissada que legou ao planeta a inesquecível "Trouble" (talvez você se lembre do videoclipe; elas saem de noite e não conseguem encontrar o caminho de volta para casa), e adotam um estilo que nada acrescenta ao panorama musical. Só que ninguém se importa.
Fazem canções românticas. Dizem defender um suposto "girl power" (força das garotas), seja lá o que isso signifique. E conseguem transmitir uma atitude "honesta", se é que a estas alturas do campeonato o adjetivo ainda queira dizer alguma coisa.
Aqui no Brasil também existe esse pop cabeça-de-vento. Com uma diferença -é chato.
Impossível fugir do paralelo entre Spice Girls e as bandas brasileiras dos anos 80, em especial as do Rio.
Qual era o quadro naquela época? Basicamente, filhinhos-de-papai da zona sul, com pretensões intelectuais, que decidiram ganhar dinheiro fazendo "concessões" ao mercado.
Resultaram daí letras vazias ("você não soube me amar", "eu quero você como eu quero") e canções piores ainda.
Aqueles jovens bronzeados de Ipanema, filhos de funcionários públicos aposentados, pareciam querer dizer: "Olha, eu sei que isso aqui é uma porcaria. Eu sou intelectual, entende? Em casa, leio Nietzsche e Baudelaire. Mas estou aqui cantando estas babas para usar o sistema, tirar dinheiro dos otários, sacou?"
E assim se perpetuava uma das características mais fortes da indústria cultural brasileira: artistas bem-nascidos fazendo lixo porque acham que é isso que a massa inerme (aquela que vive ao norte do túnel Rebouças) quer.
A praga parece não ter fim. Vi há pouco na TV uma balzaquiana lançando um livro, aparentemente "de vanguarda". O entrevistador fazia poucas perguntas, mesmo assim a "escritora" falava compulsivamente sobre a própria vida.
Acabou contando que já tinha trabalhado em novela e gravado comerciais de biscoito. Com uma ressalva: "Essa não era a minha praia, claro, mas fiz pelo dinheiro, entende?"
Em resumo: mais de dez anos depois, continua tudo igual.
Mas chega de escrever sobre gente chata. Vamos voltar ao assunto principal deste texto.
Qual a sua preferida? A ruiva Geri, a esportiva Mel C, a negra Mel B, a loirinha rechonchuda Emma ou a séria Victoria? Tanto faz.
O legal é que, ainda por cima, a vida pré-sucesso delas foi das mais movimentadas. Trabalharam em filmes pornôs, já tentaram de tudo, têm uma longa lista de serviços prestados ao mundo da devassidão.
Dia sim outro também, surge nos tablóides ingleses uma nova foto de alguma delas pelada.
Música para ouvir na boa, imagens para olhar e viajar. Quem precisa de mais?

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