São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 1997
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Sai a nova MP que muda a Lei Rouanet

RUI NOGUEIRA
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

Quase seis anos depois de entrar em vigor, a Lei Rouanet (de incentivo à cultura) vai sofrer uma das mudanças mais importantes entre todas as que foram feitas no atual governo.
Uma MP (medida provisória), que o presidente da República assina depois de amanhã, permite que empresas e pessoas físicas descontem até 100% dos investimentos culturais no Imposto de Renda. O total de abatimentos não pode ultrapassar 5% do imposto devido.
Esse benefício aplica-se a investimentos em cinco áreas: artes cênicas; música erudita e instrumental; livros de valor artístico, literário e humanístico; acervos de museus e circulação de exposições de artes plásticas; acervos de bibliotecas públicas.
Essas cinco áreas são hoje uma espécie de primos pobres da cultura, em comparação com o que vem sendo investido em patrimônio histórico e na indústria audiovisual, a começar pelo cinema.
Resumindo a filosofia da mudança, o secretário de Apoio à Cultura, José Álvaro Moisés, disse à Folha que o ministério espera "induzir o mercado" a investir mais nessas cinco áreas.
Patrimônio e cinema
Com o orçamento do próprio Ministério da Cultura, o governo deu um empurrão na recuperação e no resgate do patrimônio histórico -até o final dos quatro anos de mandato de FHC, devem ser investidos cerca de R$ 300 milhões.
O cinema já vem abocanhando uma parte substancial dos recursos captados por meio das leis de incentivos e tem, desde 93, uma regra específica, a Lei do Audiovisual (8.685/93), que permite aos empresários abater no IR 100% do dinheiro investido até o limite de 5% do imposto de devido.
No ano passado, a indústria cinematográfica sozinha captou R$ 61 milhões por meio das leis de incentivo. As outras manifestações culturais, do teatro ao circo, passando pela literatura, artes plásticas e música de todos os tipos, receberam R$ 35 milhões.
Na avaliação do Ministério da Cultura, o mercado vem demonstrando uma tendência natural ao desequilíbrio em favor do audiovisual.
"Não temos nada contra os investimentos no cinema. Tanto que não estamos mexendo na Lei do Audiovisual. O que queremos, agora, é aproveitar as experiências positivas do cinema para incentivar as outras áreas da cultura", disse Moisés.
Em sua opinião, o que o governo está fazendo é "maximizar o desempenho" das duas leis de incentivo cultural.
O que mudou
Hoje, as empresas e pessoas físicas podem fazer os investimentos por meio de patrocínio ou de doações. As empresas investem quase sempre patrocinando eventos e o lançamento de produtos. As pessoas físicas, normalmente, fazem doações.
Hoje, combinando os abatimentos permitidos pela legislação do IR e da Lei Rouanet, as empresas financeiras (seguradoras e bancos) podem abater até 76% do total investido em patrocínio cultural, e as empresas não-financeiras, 66%.
As pessoas físicas podem abater 80% do valor doado, até o limite de 10% do total de IR devido -se não tiver feito outro tipo de doação, o limite de abatimento da pessoa física pode chegar a 12%.
A mudança na Lei Rouanet, que entra em vigor a partir de quarta-feira, permite às empresas e pessoas físicas que aplicarem nas cinco áreas abater 100% do investimento no IR.
Como o número de projetos candidatos a patrocínio por meio da Lei Rouanet não pára de crescer, o governo espera, com o aumento do abatimento no IR, que as empresas privadas comecem a canalizar mais recursos para o artes cênicas, a música, a literatura, artes plásticas, museus e bibliotecas.
Em 95, o ministério recebeu 2.400 projetos candidatos a financiamento pela Lei Rouanet.
Em 96, esse número pulou para 3.000. Até junho deste ano, chegaram ao ministério 3.500 projetos culturais.

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