São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997 |
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Novos Baianos consumam reunião em CD
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
É a volta, 19 anos após o disco anterior, de um dos grupos mais importantes da música popular -e do rock- nacional dos 70. Começaram em 69, reunindo os baianos Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Galvão e a falsa baiana (carioca, na verdade) Baby Consuelo (hoje rebatizada Baby do Brasil). Logo em seguida, incorporaram conjunto de regional e o subgrupo A Cor do Som -liderado de início por Pepeu Gomes-, congraçando músicos como Jorginho Gomes, Dadi, Charles Negrita, Didi Gomes, Baixinho e Bola -todos reunidos em "Infinito Circular". Moraes, Galvão, Paulinho, Baby e Pepeu deram entrevista à Folha na última terça-feira, em clima de balbúrdia, à moda do sítio hippie/comunitário em que viveram, todos juntos, nos anos 70. Tente entender o que disseram. * Folha - Por que os Novos Baianos voltaram? Paulinho Boca de Cantor - Desde que a gente se separou, em 79, a gente ouve diariamente essa pergunta: "Quando vocês vão se unir de novo"?. Estamos, afinal, respondendo a pergunta. Baby do Brasil - Há coisas que acontecem porque têm que acontecer. Tivemos um papel muito grande nos anos 70. Depois, cada um partiu para sua vida, sem esperar reconhecimento ou uma volta. Moraes Moreira - Estamos de volta para cumprir uma missão. Voltamos para recontar uma história, para mostrar que o amor é possível, que o Brasil é possível, que assumimos o Brasil, não temos vergonha dos nossos defeitos. E voltamos acima de tudo porque achamos que ainda somos capazes de fazer alguma coisa nova e boa. Pepeu Gomes - Acho que a gente na verdade nunca se separou, cada um continuou sempre ajudando nos trabalhos dos outros. De alguma forma, a gente continuou junto até esse reencontro que hoje resulta nesse disco maravilhoso. Galvão - Existe hoje um interesse muito grande pelos anos 70. Voltamos para trazer os anos 70 aos 90, e também para fazer os anos 90. Folha - Após tantos anos de separação, é fácil "casar" de novo? Baby - Nós nos separamos, mas continuamos transando (ri). Moraes - Fui o primeiro a sair, e foi muito difícil. Mas descobri que nunca saí dos Novos Baianos. Foi um aprendizado, uma "experiovivência", como Galvão diz. E o grupo é democrático. Contrariando Nelson Rodrigues, que diz que toda unanimidade é burra, tudo que acontece entre nós é unânime. Todos têm que concordar. Paulinho - Nós fizemos um trabalho muito forte, e o difícil foi cada um partir para sua carreira e se safar com dignidade. Cada um fez uma carreira, e isso é fundamental para a gente poder se unir de novo. Galvão - A carreira individual de cada um alimenta e enriquece o trabalho dos Novos Baianos, e os Novos Baianos também enriquecem a carreira de cada um. Folha - Somando separações e voltas, já vão quase 30 anos. Vocês ainda se aguentam? Baby - A transa é boa (ri). Paulinho - Não só a gente se aguenta como sente muita falta um do outro. Pepeu - A gente está mamando na nossa própria fonte. Olhamos para a gente, vimos como foi maravilhoso e agora conseguimos dar uma continuidade a esse trabalho. Folha - Como vocês conciliam as diferenças que se formaram a partir de trabalhos individuais muito diferentes uns dos outros? Baby - A gente decorou a nossa onda, ela está gravada na nossa placa de neurônios, não há como tirar nunca mais. Como banda, nós todos procuramos saber o que cada um quer e fazer a harmonia do som. É um trabalho de equipe. Moraes - Quando fomos fazer, automaticamente entramos na atmosfera Novos Baianos. Isso garante a unidade, por mais diferente que esteja cada trabalho. Pepeu - A nossa intimidade a gente recupera rapidinho, porque a maior intimidade é a música. Galvão - Acontece um mistério, nós chegamos e falamos coisas novas -baseadas nas velhas, mas completamente novas-, escrevemos 12 músicas novas em 15 dias. Mas vejo que nossos filhos gostam mais de Novos Baianos que a gente. Eles têm uma amizade entre eles tão forte quanto a nossa, e não têm os problemas, as confusões naturais que nós chegamos a ter. Paulinho - Quase todos eles tocam música. Folha - Eu queria que cada um contasse um defeito de um dos outros. Baby - Olha a porcaria! Agora é a parte perigosa. Olha, o único defeito, de que ninguém tem culpa porque é a história da humanidade, é que a gente viveu certa situação de machismo. Eu tive que peitar os meninos com meu pau. Paulinho - Pára com isso! Todo mundo diz que você é quem manda nos Novos Baianos! Baby - Mas não tem problema nenhum, foi bom para mim. Eu ser a mulher arretada que sou hoje, devo a eles quatro. Obrigada. Paulinho - Vou falar do defeito da Baby: ela fala, fala, fala, a gente fica querendo dar uma palhinha e ela não deixa. Galvão - O defeito da Baby é ser injusta com os homens dos Novos Baianos. Ela jogava futebol, eu nunca notei ela como mulher. Baby - Mas eu era mulher de Pepeu, se você disser que me olhou como mulher leva um cacete. Galvão - E aliás ela gosta muito de homem. Teve seis filhos. Pepeu - Eu prefiro falar do meu defeito: sou muito perfeccionista. Moraes - Você tirou minha palavra da boca. Prefiro falar do meu defeito: é às vezes ainda voltar a hábitos que eu sei que não devo mais voltar, mas vacilo e volto. Baby - E qual é o hábito, Moraes? Moraes - É voltar a coisas que já considero velhas, que já não servem para meu autoconhecimento. Paulinho - Sentiu que não é um defeito seu, é da humanidade. Disco: Infinito Circular Banda: Novos Baianos Lançamento: Globo/Polydor Quanto: R$ 36, em média (CD duplo) Texto Anterior: A coisa vale o ingresso Próximo Texto: O PRESENTE E O FUTURO Índice |
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