São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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Comércio agrava o desemprego em SP

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela primeira vez nos mais de dez anos em que o país convive com planos antiinflacionários, a força de trabalho encolheu e o desemprego aumentou no mesmo mês.
Nem mesmo na recessão do início da década os dois indicadores tiveram comportamento negativo. O Dieese e a Fundação Seade fazem a pesquisa desde 1985 na região metropolitana de São Paulo.
No mês passado, o desemprego cresceu de 15,7% para 15,9% da população economicamente ativa (PEA) da região. O número de desempregados subiu para 1,37 milhão de pessoas. No mesmo período, a PEA caiu 0,7%, para 8,62 milhões de trabalhadores.
O maior responsável pelo resultado foi o comércio. As lojas fecharam 48 mil vagas. A indústria, que até então encenava o papel de vilão do desemprego, registrou estabilidade no mês passado.
Para o diretor-técnico do Dieese, Sérgio Mendonça, as demissões no comércio podem refletir o esgotamento da tendência de elevação do consumo, principalmente de bens duráveis, que se verificou após o Plano Real, em 1994.
"Parece que não há mais como o consumo crescer no ritmo anterior", diz. "Há um esgotamento do crédito e um crescimento do endividamento das famílias."
Mendonça e Pedro Paulo Martoni Branco, da Fundação Seade, evitam falar em recessão. Para eles, os indicadores de um único mês são insuficientes para chegar a essa conclusão.
"Acredito que o governo não deixará o país entrar em uma fase recessiva", diz Martoni Branco.
Mau começo
O resultado do mês passado é agravado pelo fato de agosto marcar, tradicionalmente, o início da maior atividade, comum no segundo semestre. É raro que mesmo um dos dois indicadores de emprego seja negativo nesse mês.
Em toda a história da pesquisa, o desemprego em agosto só cresceu uma única vez, em 1987, quando o Plano Bresser restringiu o crescimento da economia.
A força de trabalho também só diminuiu uma vez em agosto. Foi em 1995, após as medidas para conter o consumo tomadas para estancar os efeitos da crise cambial do México sobre o Brasil.
O desemprego na Grande São Paulo em agosto só é menor que o de 1992, quando atingiu 16,1%.
Na época, o país vivia a fase mais aguda do Collorgate, o escândalo político-financeiro que levou à renúncia do presidente Fernando Collor de Mello, em dezembro.

LEIA MAIS sobre a situação do comércio na pág. 2-12

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