São Paulo, sábado, 27 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ieltsin assina lei que limita as religiões

Vaticano reclama da nova lei

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da Rússia, Boris Ieltsin, sancionou ontem uma polêmica lei regulamentando a atividade religiosa no país. Os EUA, o Vaticano e outras igrejas criticam a nova lei, vista como uma ameaça à liberdade religiosa no país.
Os simpatizantes da lei afirmam que ela ajudará a lidar com "seitas perigosas" que estão se instalando na Rússia para explorar o vazio espiritual deixado com o colapso do comunismo. Seu principal objetivo é limitar a ação de missionários.
Alguns de seus opositores dizem concordar com os objetivos da lei, mas a consideram discriminatória contra pequenos grupos religiosos já instalados no país. Ela declara que somente as chamadas "religiões tradicionais" que estão ativas na Rússia há 15 anos serão registradas e poderão realizar serviços.
As religiões incluem cristianismo (igrejas Ortodoxa Russa, Católica Romana e protestantes), budismo, islamismo e judaísmo.
O Vaticano disse que a nova lei pode tornar ainda mais difícil a ação de grupos não-ortodoxos, que já seriam discriminados. O escritório do arcebispo de Canterbury, líder espiritual da Igreja Anglicana, se disse decepcionado com a atitude de Ieltsin. O vice-presidente dos EUA, Al Gore, que visitou Moscou esta semana, também pressionou Ieltsin.
Mas o patriarca ortodoxo, Alexis 2º, rechaçou as críticas, dizendo que as condições específicas da Rússia atual tornam necessária uma lei diferenciada.
A Igreja Ortodoxa Russa foi discriminada junto com as outras religiões durante o regime soviético, mas, ao contrário da maioria das outras, teve permissão para continuar existindo enquanto seus líderes cooperassem com as autoridades. Com o fim do comunismo, ela recuperou terreno graças ao seu apelo popular e influência política.
O papa João Paulo 2º havia dito que a primeira versão da lei, vetada por Ieltsin, ameaçava a sobrevivência da Igreja Católica Romana na Rússia. O Senado dos EUA ameaçou suspender ajuda de US$ 200 milhões por causa dela.
Uma comissão formada por representantes da Presidência, do Parlamento e dos principais credos religiosos escreveram a segunda versão da lei. Seu preâmbulo, que destacava o "papel especial" da Igreja Ortodoxa, foi reescrito para incluir o cristianismo em geral -e não apenas os ortodoxos russos-, junto com o islamismo, budismo e judaísmo, como uma das religiões tradicionais do país.
Críticos dizem que as mudanças são cosméticas, enquanto outros duvidam que ela seja implementada com rigor pelas autoridades.
Ontem mesmo o Ministério do Interior fez críticas contra a Igreja da Cientologia, sediada nos EUA. "As atividades dos seguidores desse tipo de ensinamento são prejudiciais e nocivas à sociedade", disse Boris Tsilinki, alto funcionário do ministério.
Entre os ameaçados pela nova lei estão mórmons, adventistas do sétimo dia, hare krishnas e testemunhas de Jeová.

Texto Anterior: Justiça da Itália condena 30 pela morte de Falcone
Próximo Texto: GIA assume massacres na Argélia e renega trégua
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.