São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Motta perde espaço para Clóvis Carvalho

KENNEDY ALENCAR

KENNEDY ALENCAR; RAYMUNDO COSTA
EDITOR DO PAINEL

Atritos e incontinência verbal do ministro das Comunicações fortalecem titular da Casa Civil junto a FHC

RAYMUNDO COSTA
Os atritos de Sérgio Motta com os outros ministros e com a cúpula do PSDB fortaleceram a posição de Clóvis Carvalho (Casa Civil), que está ganhando no momento uma batalha contra o colega da pasta das Comunicações.
Carvalho está barrando indicações que Motta quer fazer para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Segundo a Folha apurou, há divergência sobre dois dos cinco nomes que comporão a diretoria do órgão que regulamentará as telecomunicações no Brasil quando concluída a privatização do setor.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, que conferia antes carta branca a Motta na área das comunicações, está, até o momento, arbitrando o conflito a favor de Clóvis Carvalho.
FHC pediu que Motta fizesse mais indicações além das que o ministro já levara à Casa Civil. O presidente acatou veto de Carvalho, que desempenha bem e discretamente o papel de dizer não e sim em nome de FHC.
Divergência
Desde o começo do governo, Motta diverge da dupla que auxilia FHC no Planalto: Carvalho e Eduardo Jorge (Secretaria Geral).
Por ter relação pessoal antiga com o presidente, Motta sempre se sentiu uma espécie de primeiro-ministro. Isso sempre incomodou Carvalho e Jorge.
As frequentes crises provocadas pelo ministro das Comunicações contrariam Clóvis Carvalho e Eduardo Jorge, que viram a oportunidade de ocupar mais espaço. Agora, enfrentam abertamente Motta e estão se fortalecendo mais junto ao presidente.
Enquanto Carvalho mina Motta no governo, Eduardo Jorge ameaça ocupar mais espaço como um dos coordenadores da campanha reeleitoral de FHC.
Motta, que coordenou a campanha de 94, não admite a hipótese de dividir espaço em 98 com Jorge, que provavelmente estará no time eleitoral do presidente.
Grupo de inimigos
O presidente também está sendo obrigado a administrar o clima de indisposição de outros ministros contra Motta. Os casos mais recentes são de Paulo Renato Souza (Educação) e de Eliseu Padilha (Transportes).
Na terça passada, o presidente da Câmara, Michel Temer, foi ao Palácio do Planalto reclamar com o presidente que Motta batia apenas na parte do PMDB que defende uma aliança com ele para a eleição presidencial de 98.
Temer referiu-se a uma reunião tucana da semana anterior, na qual Motta falou que havia "esquemas" (irregulares) no Ministério dos Transportes. Na mesma terça, FHC discursou elogiando a gestão "competente e correta" de Padilha.
O desgaste com Paulo Renato se acentuou no episódio da compra de votos durante a votação da emenda da reeleição, revelado pela Folha. Motta ficou contrariado com Paulo Renato, por julgá-lo fonte de críticas que recebeu na época.
No momento, Paulo Renato e Motta aparentemente recompuseram sua relação. Mas incomoda o ministro das Comunicações ver o colega da Educação receber missões do presidente para apagar incêndios que sua incontinência verbal cria.
Na lista de desafetos de Motta no governo encontram-se Pedro Malan (Fazenda), Bresser Pereira (Administração), Iris Rezende (Justiça) e Gustavo Franco (Banco Central). Todos já foram alvos de ataques do ministro.

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