São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Brown canta ao ar livre e de graça

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Compositor se apresenta em SP e vai para a Bahia acompanhar o lançamento do novo disco do Timbalada

Hoje é dia de maratona para Carlinhos Brown. O cantor/compositor/percussionista se apresenta às 15h no palco do Lago do Sesc Interlagos (zona sul de SP), ao ar livre e com entrada franca, e depois "se pica" para Salvador, onde acontece o lançamento do novo disco da Timbalada.
"Na minha vida, nunca fiz um show igual ao outro. Adoro tocar para gente do trabalho, gente do dia-a-dia. As pessoas podem esperar do show o que espero de mim: estar sempre apto para ser um canal de alegria. E celebrar. Estou celebrando o final do século a tempos. A própria criação da Timbalada é isso", disse.
O repertório, como já se percebe, é imprevisível. Mas nele deverão estar incluídos o hit "A Namorada" -que virou até trilha sonora para o filme "Velocidade Máxima 2"-, além de "Quixabeira", do álbum solo "Alfagamabetizado".
Disco novo, Brown só começa a gravar no ano que vem. Por enquanto, continua compondo com os amigos, como a cantora Marisa Monte e o ex-titã Arnaldo Antunes.
Reclamações
Mas Carlinhos Brown diz estar bastante preocupado -e parece um tanto quanto pessimista- sobre os artistas brasileiros.
Com sua característica verborragia, ele não poupa reclamações. "A realidade do artista não é a aparência televisiva. Estamos na maxi-desvalorização do artista. Não temos mais direito de reclamar. Estou falando em nome de vários. O fato de eu falar às vezes tem me prejudicado muito. Vou cuidar do meu umbigo e vencer essa banalidade com talento." A isso, ele acrescenta problemas recentes que teve com o patrocínio, mais precisamente com o banco Excel Econômico.
"O banco Excel disse numa revista que tinha me dado 250 mil dólares e aí retiraram o patrocínio, depois de usar a minha imagem, sem ao menos me avisar. Você não sabe em quem confiar, tem que confiar na música."
Ele reitera ainda as dificuldade de manter o repertório independente: "A coisa da arte é dispersa mesmo. O repertório brasileiro não pertence ao Brasil hoje, pertence aos gringos. E quem fica fora, está fora das rádios, de tudo. Hoje, o artista não conta. O Japão até inventou o artista virtual". E termina dizendo, com alguma desilusão, que não é negócio ser contemporâneo. "Fui indicado para tudo no MTV Video Music Awards e não ganhei nada. Eu me interessaria em ter um clipe daqueles. Você viu o clipe que ganhou? Fala de futebol... Nada de favela. Talvez eu tenha que entrar nesse padrão. Eu é que estou precisando aprender. Já vi que não é negócio ser contemporâneo."
O discurso de Brown também não poupou o apoio aos trabalhos sociais que grupos como a Timbalada e Olodum recebem.
"Parece tudo banal, perdido, parece que o Brasil tem interesse na miséria e isso alimenta a intelectualidade. Está todo mundo cansado de ser preto. Fica só a imagem da baiana carregando peso na cabeça, do capoeirista, mas as pessoas querem é conforto. Estão cansadas de tomar ônibus lotado. Querem é comprar carro popular", afirmou.
Na quinta-feira, o baiano fundador da Timbalada fez show e deu palestra para cerca de 700 crianças em Bauru (345 km a noroeste de SP). Além da música, aproveitou para fazer propaganda da campanha que inventou -como virou moda entre os artistas baianos- contra a pichação.
"Os monumentos precisam ser respeitados. É muito chato chegar em São Paulo e encontrar a Pinacoteca pichada. É uma falta de vergonha", afirmou.
Break, boné, Michael Jordan, Gauguin, Basquiat, capoeira e espelhos para os adolescentes são elementos que entram na discussão de Brown sobre a pichação. Mas o compositor é taxativo: "A pichação é uma dispersão social, não condiz com a cultura brasileira. Não é forma de expressão, só se for expressão de mau gosto".

Show: Carlinhos Brown
Quando: hoje, às 15h
Onde: Palco do Sesc Interlagos (av. Manuel Alves Soares, 1.100, tel:011/520-9911 r. 200/203/211)
Quanto: Entrada franca (ao ar livre)

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