São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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A VOZ DO BRASIL

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Ao passear pelas ruas, Cid Moreira ainda ouve pessoas comentando "olha lá o 'Jornal Nacional"'. Mas o locutor, que completa 70 anos amanhã, confessa que não tem mais visto o telejornal de maior prestígio da TV brasileira.
Alguma mágoa por ter sido "aposentado" do cargo de apresentador número um do "JN", em março de 96, após 27 anos de trabalho? Moreira nega, afirmando que, ao contrário, se sentiu premiado, pois, assim como Pelé, saiu "no auge".
Feliz com sua forma -"o meu físico é de alguém na faixa dos 50"-, garante que não tem mais assistido ao "Jornal Nacional" porque por volta das 20h está fazendo suas duas horas de exercícios diários, na academia montada na cobertura onde mora, na Barra da Tijuca (zona sul do Rio), com sua mulher, Ulhiana Naumtchyk.
Além de fazer ginástica diariamente, joga tênis para manter o peso entre 68 kg e 70 kg bem distribuídos em 1,69 m.
Mas, ao lembrar a boa forma do empresário Roberto Marinho, 92, dono da Rede Globo, Moreira confessa novamente, com um sorriso: "Se não me propusessem isso, eu ia até os cem no 'Jornal Nacional"'.
A proposta apresentada ao locutor significou uma rotina de vida invejada por muita gente: recebeu aumento salarial -comenta-se que ganha em torno de R$ 30 mil- e passou a trabalhar basicamente uma hora por semana.
É o tempo que leva para, aos sábados, gravar sua participação no "Fantástico" de domingo, apresentando o resumo das principais notícias da semana. Fora isso, Moreira é convocado esporadicamente para ler os editoriais da direção da Globo.
Apesar da boa vida, ele afirma sentir saudades "da rotina" agradável de apresentador do "Jornal Nacional". Uma rotina que começou quando o "JN" foi ao ar pela primeira vez, em setembro de 1969.
Nascido em Taubaté, trabalhou no rádio em São Paulo e no Rio, até que foi levado para a Globo por Fernando Barbosa Lima.
Moreira lembra que, nos seus primeiros anos de "JN", o jornal televisivo de maior prestígio era o "Repórter Esso", então na extinta TV Tupi. Por isso, Moreira ainda ouvia nas ruas as pessoas falando "olha lá o 'Repórter Esso"'.
Mas, o sucesso do "JN" nos anos 70 já era tão grande que Moreira passou a ouvir desde então os comentários de "olha lá o 'Jornal Nacional"'.
Dois amigos contam que Moreira ganhou prestígio não propriamente por suas qualidades intelectuais, mas por ser um locutor inigualável. "Ele não sabia de nada, mas lia a notícia como ninguém", diz um deles, sem querer se identificar.
Outra característica rendeu-lhe muita dor de cabeça: ser mulherengo. Moreira vivia assediado por mulheres. "Ele era muito mulherengo, era negócio de pancadaria. Já houve caso de mulher bater no carro dele", afirma outro amigo.
Esse amigo diz que Moreira só conseguiu "regularizar" sua vida ao casar, há 11 anos, com sua terceira mulher: a gaúcha Ulhiana Naumtchyk, 34 anos mais jovem. O locutor abre um sorriso quando fala da mulher.
Foi a vaidade que o aproximou de Ulhiana. Por causa de um tratamento para frear a calvície, ele a conheceu, há 13 anos, e se apaixonou.
Dona de um instituto de beleza e de tratamento capilar na Barra da Tijuca, ela teria salvo Moreira de ficar careca e o incentiva a cuidar do corpo. "Ela tem a mente mais velha do que a minha. Por isso dá certo", afirma.

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