São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Fumaça de queimadas causa problemas respiratórios no AM

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

A concentração de fumaça de queimadas ontem sobre Manaus (AM) provocou um aumento médio de 40% nos atendimentos a pessoas com problemas respiratórios nas cinco unidades de urgência da cidade e no Pronto-Socorro Municipal 28 de Agosto.
Todas as unidades ficaram lotadas. A informação foi dada pelo médico Luís Carlos Cembrani, do pronto-socorro. Até as 14h30 de ontem, cerca de 80 pessoas, a maioria crianças, chegaram ao PS com crises respiratórias. Segundo Cembrani, nos dias normais são feitos 50 atendimentos.
Os bombeiros receberam, na última semana, cerca de 20 chamadas diárias para apagar incêndios nas matas da região de Manaus.
Não há números sobre a extensão do fogo. As maiores queimadas concentram-se nas fazendas espalhadas pelos 100 km que separam Manaus de Itacoatiara.
A multiplicação das queimadas é um grave problema que vem atingindo a Amazônia nos últimos anos, pois o fogo é usado para destruir a floresta visando sua exploração selvagem -principalmente a venda da madeira- e sua ocupação desordenada.
Desastre semelhante atinge a Indonésia, no Sudeste Asiático, que tem enormes áreas de suas florestas queimando. Os incêndios começaram em julho. O país está coberto por uma enorme nuvem de fumaça, que já atinge os vizinhos Malásia, Cingapura, Brunei e Filipinas.
Indonésios estão sendo obrigados a usar máscaras em algumas regiões do país. A fumaça é apontada como a principal suspeita de causa pela colisão de um Airbus-300 da Garuda Airlines com uma montanha, no norte da Indonésia, que matou 234 pessoas.
Manaus amanheceu coberta por uma forte nuvem escura, resultante da mistura de neblina e muita fumaça, que provocou crises de bronquite e asma, além de irritações nos olhos e garganta. Com pouca visibilidade, pousos e decolagens nos aeroportos Internacional Eduardo Gomes e Militar de Ponta Pelada foram feitos apenas por meio de instrumentos.
O Corpo de Bombeiros ficou em alerta. Os barcos foram orientados pela Capitania dos Portos a navegar nas margens do rio Negro, que banha Manaus, sem atravessá-lo, porque de uma margem não era possível ver a outra.
O Serviço de meteorologia do aeroporto Eduardo Gomes informou que não há como medir a concentração de fumaça por falta de aparelhos. Por isso, o parâmetro usado é a visibilidade aérea, reduzida ontem a menos de um terço do normal. A visibilidade horizontal era de 2.000 metros -o padrão normal é 7.000 metros horizontais. O teto, ou visibilidade vertical, que, em Manaus, chega a 1.500 metros, atingia ontem apenas 213 metros.
A Agência Folha não localizou ontem o superintendente do Ibama no Amazonas, Hamilton Casara, nem a secretária estadual do Meio Ambiente, Rosaline Pinheiro. Na casa dela, ninguém atendeu às ligações. O celular dele estava desligado.
Os focos de queimadas e as nuvens de fumaça se espalham por várias regiões na Amazônia. No sábado, os vôos no aeroporto de Porto Velho, capital de Rondônia, foram monitorados por aparelhos, devido à falta de visibilidade.
No sudeste do Pará, o aeroporto de Carajás foi fechado duas vezes nos últimos 15 dias.

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