São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Médico cobra 'adesão' de paciente com Aids

ROGÉRIO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Médicos e ativistas fizeram no fim-de-semana um apelo para que os pacientes de Aids sejam mais responsáveis e engajados nos seus tratamentos com os chamados coquetéis de remédios.
A cobrança foi feita durante o 7º Encontro Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids, realizado no hotel Gloria, no Rio.
"A questão da adesão ao tratamento é gravíssima ", disse o médico Caio Rosenthal, do hospital Emílio Ribas, de São Paulo.
Segundo ele, cerca de 40% dos insucessos dos coquetéis em todo o mundo são consequência de uma adesão incorreta ao uso dos medicamentos -não tomar os comprimidos ou tomar fora da hora certa, por exemplo.
Para Mário Scheffer, diretor do Grupo Pela Vidda de São Paulo, o momento atual de luta contra a epidemia exige "um paciente mais ativo".
Scheffer afirma que a parcela dos que não sabem usar os medicamentos ainda é muito grande. Mas ele cobra também uma mudança de comportamento dos médicos.
"Os médicos, os pacientes e a rede de serviço têm a obrigação de usar bem os remédios", afirma.
Ele admite que, para muitas pessoas, seguir à risca o tratamento é algo quase "inviável". "É cruel." O Pela Vidda tem publicado em sua revista uma cartilha com dez mandamentos para evitar problemas com o tratamento.
Em média, os atingidos pela Aids têm sido obrigados a ingerir cerca de 500 doses de comprimidos por mês, em horários diferentes e têm, muitas vezes, de fazer mais de um período de jejum por dia.
Ronaldo Mussauer, do Pela Vidda do Rio, teve de interromper sua fala em uma das mesas quando seu despertador de bolso tocou indicando que ele deveria tomar uma dose de um de seus remédios.
"Não consegui aproveitar nenhum 'coffee break' do encontro porque todos eram na hora do meu jejum." Para manter sua carga viral baixa, Mussauer toma 660 comprimidos por mês.
O médico e ativista Claudio Palombo, de Niterói, um dos debatedores, diz que há novas responsabilidades para todos os envolvidos.
"Existe o papel do médico, mas há o compromisso do paciente."

O jornalista Rogério Simões viajou ao Rio a convite da Rede Nacional de Direitos Humanos em DST/Aids do Ministério da Saúde

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