São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Take 6 apresenta Deus embalado em jazz

CARLOS BOZZO JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Foi cantando spirituals que o grupo vocal Take 6 abocanhou sete prêmios Grammy (o Oscar da indústria fonográfica).
Isso dá uma estatueta para cada membro do grupo -os seis cantores mais "Deus, o sétimo integrante", como afirmou o líder Cedric Dent (barítono).
"Deus está sempre conosco", disse o cantor em entrevista exclusiva à Folha, por telefone, de Nashville (Tennessee, nos EUA), na última quinta-feira.
O grupo, considerado o melhor do mundo em sua categoria, vem ao Brasil lançar seu quarto CD, "Brothers".
Formado por, além de Cedric, Alvin Chea (baixo), Joel e Mark Kibble, Claude 5º, McKnight 3º e David Thomas (tenores), o Take 6 se apresenta no dia 7 de outubro no Metropolitan (Rio de Janeiro); dia 8 na Sala Villa-Lobos (Brasília); e dia 9 no Olympia (São Paulo).
*
Folha - Como você define o último CD do grupo, "Brothers"?
Cedric Dent - Tentamos fazer uma coisa diferente, trabalhando as músicas e a capela (só vozes, sem acompanhamento instrumental). Talvez o som tenha se tornado mais gospel.
Folha - Como a religião se manifesta na música de vocês?
Dent - Deus é a razão de o Take 6 fazer o que faz. Ele nos deu um grande presente, e nós nos sentimos devolvendo esse presente a ele quando cantamos para as pessoas.
Folha - Vocês qualificam a música de vocês de jazz ou gospel?
Dent - Não sei como chamá-la, porque temos muitos estilos dentro de nosso som. Mas acredito que a base do que fazemos é o spiritual. Nós emprestamos sons de vários estilos para divulgar nossa mensagem. Espero que nossa música e nosso estilo levem muita gente a se aproximar de Deus.
Folha - Divulgar Deus, é essa a missão do Take 6?
Dent - Existem várias missões no mundo, dentro do trabalho para Deus. A do Take 6 é apresentar Deus às pessoas.
Folha - Qual o melhor lugar para cantar: o palco ou a igreja?
Dent - Para nós, os palcos, porque é onde temos mais contato com pessoas que ainda não encontraram Cristo. Nas igrejas, as pessoas já encontraram Jesus, ou há mais chance de isso ocorrer.
Folha - Vocês dão o dízimo?
Dent - Sim. Cada um de nós dá dez por cento dos ganhos para duas igrejas locais, aqui mesmo em Nashville.
Folha - O que é mais fácil de praticar: a fé ou a música?
Dent - (Risos) Não sei se conseguiria separar essas duas coisas... Pessoalmente, meu amor por música veio com minha experiência na igreja.
Folha - Alvin Chea disse em entrevista recente querer levar a música do Take 6 a milhões de pessoas. Vocês planejam alguma apresentação gratuita no Brasil?
Dent - Temos algumas pessoas cuidando do nosso itinerário. Não acho que isso ocorra... Mas eu realmente não sei.
Folha - Nas músicas do Take 6, o que é mais importante: a harmonia, a melodia ou a mensagem?
Dent - A mensagem. É o conteúdo da caixa. A música é só a embalagem dessa caixa.
Folha - Recentemente, vocês gravaram um CD com várias amostras, samples de suas vozes para a empresa Teclados Kurzweil. Vocês não temem que, fazendo isso, alguém use as vozes para fins que vocês não aprovariam? Músicas sacrílegas, por exemplo, mesmo pornografia ou algo do tipo?
Cedric Dent - Sim. Mas a tecnologia é muito presente na música hoje. E a companhia de sintetizadores Kurzweil nos procurou para samplear nossas vozes. Dessa maneira, outros músicos poderão usá-las.
OK, se usarem nossas vozes para objetivos estranhos, mesmo assim eles terão apenas nossas vozes. Faltaria o mais importante, que é a criatividade para trabalhá-las.
Folha - Há algumas semanas, se apresentou no Brasil o roqueiro Marilyn Manson, que se define como "anticristo". Qual sua opinião sobre o trabalho dele?
Dent - Qual o nome?
Folha - M-a-r-i-l-y-n M-a-n-s-o-n.
Dent - Marilyn Manson?
Folha - Sim, entre outras coisas, ele faz músicas para o demônio.
Dent - Oh, entendo... Nunca ouvi nada dele.
Folha - Vocês gravaram com muita gente boa, como Quincy Jones, Stevie Wonder, Ray Charles, Ella Fitzgerald. Com qual desses nomes vocês realmente gostaram de trabalhar?
Dent - Acho que Quincy Jones foi um dos mais criativos produtores com o qual já gravamos. Adorei trabalhar com ele. Eu também adorei trabalhar com Stevie Wonder, que é musicalmente um gênio.
Folha - Vocês pretendem gravar música brasileira?
Dent - O mais perto que chegamos da música brasileira foi uma canção escrita por Ivan Lins.
Mas não é o que fazemos e não queremos fazer errado. A música brasileira é uma música muito bonita, ainda temos de aprender muito sobre ela. E não queremos estragar uma coisa tão linda (risos).

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