São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 1997
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O fundo das desconfianças

JANIO DE FREITAS

As reticências de Miguel Arraes e as ressalvas de Leonel Brizola em relação a Ciro Gomes, levando-o à sua desajeitada filiação ao PPS, originaram-se da desconfiança de que o aspirante a candidato da esquerda já tinha um esquema político articulado, envolvendo até governistas, sem dar disso a menor notícia aos líderes da oposição. A desconfiança está justificada.
Os indícios iniciais da articulação foram proporcionados por menções, na política cearense, à provável transferência de deputados estaduais para o PSB, acompanhando Ciro Gomes. Os nomes citados eram, porém, de deputados do PSDB muito leais ao governador Tasso Jereissati, sendo um deles o próprio líder peessedebista na Assembléia. E havia, ainda, os frequentes encontros de Ciro com Jereissati, para avaliar -o que não escondiam- o desenrolar de suas negociações com os oposicionistas.
As disposições de acompanhar Ciro, na filiação ao PSB, passaram de indícios a disposições confirmadas. Mas a liderança de Jereissati no PSDB cearense, absoluta, não seria constestável por transferências alheias à sua vontade. Ainda mais se incluindo alguns dos seus colaboradores mais importantes na política estadual.
Sem meios de descobrir o significado da estranha aliança, envolvendo aliados íntimos de Fernando Henrique Cardoso e um duro crítico com aparente pretensão de enfrentá-lo nas urnas, Arraes estava, de fato, manobrando com Ciro Gomes sem o estimular a filiar-se ao PSB.
Inscrito Ciro Gomes no PPS, sem avisar a mais do que à Globo, logo se confirmaram as transferências, para aquele partido, dos peessedebistas de Tasso Jereissati que deveriam pedir filiação ao PSB (este, por sinal, de oposição ao governo peessedebista do Ceará). Arraes pareceu surpreso e irritado, mas não é certo que estivesse.
Uma informação a mais para o dossiê de Arraes e Brizola: a entrevista de Ciro Gomes ao "Jornal do Brasil", há duas semanas, que teve o destaque de manchete do jornal e repercussão grande no empresariado a que se destinava, foi articulada pelo governador Tasso Jereissati.
Aliás, a par do auxílio de Jereissati, por informação ou por dedução fácil, Fernando Henrique reagiu e o governador providenciou uma entrevista sua já para o dia seguinte, com a reafirmação de sua fidelidade inquestionável, inabalável, incomparável ao candidato-presidente. Mas o esquema à volta de Ciro Gomes continuou.

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