São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 1997
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Está mais do que na hora

BETO MANSUR

kEstá mais do que na hora
A recente privatização do Terminal de Contêineres (Tecon) de Santos, o principal do país, revela nitidamente a necessidade cada vez maior de participação da iniciativa privada no processo de modernização da vida pública nacional.
Essa constatação resulta não apenas do ágio obtido pelo governo, que superou em mais de 170% a expectativa de negociação, mas principalmente da filosofia que permeia esse processo, pois na esteira do arrendamento surte a clara perspectiva de maior produtividade e, consequentemente, de geração de empregos e riquezas.
É inegável o salto de qualidade que, como um todo, o porto de Santos vai experimentar a partir de agora com a privatização do Tecon, cujo custo de movimentação de contêineres deverá ter uma redução em dois anos de aproximadamente 230%, conforme estimativa anunciada pelo ministro do Planejamento, Antonio Kandir.
Assim, a transferência paulatina das atividades portuárias para a iniciativa privada, antes de se constituir em problema dramático, insolúvel e irreparável para certos segmentos políticos e sindicais, deve ser saudada como medida saneadora, eficaz e principalmente produtiva -haja vista a competitividade e o desenvolvimento que vai ensejar.
Esse quadro de crescimento que se delineia e que se contrapõe à estagnação oferecida pela burocracia estatal tem plenas condições de, num primeiro momento, assegurar os postos de trabalho e, posteriormente, ampliá-los como decorrência natural da própria atividade econômica. Esta, por sinal, ganhará um novo perfil, mais acelerado, adequado à realidade e em consonância com as exigências de mercado.
O sucesso em que se constituiu o leilão do Tecon é um indicador evidente de que a filosofia que estimula a parceria com a iniciativa privada está correta. O que se espera é que o êxito alcançado pelo governo no arrendamento do terminal tenha reflexos positivos na economia da região e em todas as atividades desenvolvidas no porto, que, como o maior da América Latina, precisa se modernizar para crescer e voltar a ser o grande pólo exportador e gerador de riquezas para o país.
Mas, para tanto, seria fundamental que os recursos apurados no leilão, que acabarão sendo canalizados para outras finalidades pelo governo federal, fossem aplicados na modernização portuária e na infra-estrutura viária, entre outras prioridades regionais. Afinal, o arrendamento garantiu quase R$ 275 milhões aos cofres da União, mas sem nenhuma contrapartida para a Baixada Santista.
Exatamente por isso, defendo a tese da municipalização dos portos, como forma de assegurar o crescimento, a produtividade e a geração de empregos, pois são os governos municipais que estão mais próximos da população e em melhores condições de avaliar as suas necessidades e o interesse coletivo.
Além do mais, pela sua importância histórica, política, econômica e cultural, já está mais do que na hora de Santos administrar o seu porto.

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