São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 1997
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Ira justa

JUCA KFOURI

Palmeirenses irados protestam contra o que consideraram uma cobertura parcial da imprensa paulista -"imprensa corintiana", segundo eles- em relação ao clássico diante do Corinthians no Morumbi. E têm razão.
Justiça seja feita que, mesmo sem o destaque devido, a Folha ao menos registrou na reportagem de Rodrigo Bertolotto e Luiz Cesar Pimentel: "Após o escanteio, Agnaldo completou de cabeça, mas Ubiraci Damásio anulou, apontando falta".
Melhor teria sido, sem dúvida, dizer falta que não aconteceu, até porque a manchete da página apontava: "Pênalti inexistente define placar do jogo". Pior, no entanto, fiz eu, ao chamar de "vergonhoso" o pênalti assinalado e nem sequer ter mencionado o gol mal anulado, que, naquelas alturas, praticamente definiria a partida com o que seria 2 a O para o Palmeiras.
Portanto, fica aqui meu pedido de desculpas ao leitor.
*
Uma explicação (não uma justificativa, veja bem) para o fenômeno apontado na imprensa paulista em geral que, de fato, não torce nem distorce por clube algum: a gana corintiana ao virar o jogo, o fato de o time ter feito sua melhor partida no campeonato até aqui, a certa superioridade que mostrou evidenciada nas duas milagrosas defesas de Velloso (que está lá para defender, é inegável, o que é mérito palmeirense), tudo isso contribuiu para se dar mais ênfase ao pênalti que, além do mais, é sempre um lance isolado e mais apropriado à polêmica.
E, se não bastasse, os jogadores palmeirenses nem reclamaram do gol anulado, talvez pela rapidez com que a bola foi reposta em jogo. Enfim, não foi um momento marcante da partida.
Mas que o árbitro assinalou o famoso perigo de gol é fora de discussão.
*
E o que dizer da ira dos torcedores do Fluminense?
Também é justa, apesar de extravasada de maneira inteiramente equivocada com agressões a jogadores.
A cartolagem tricolor abriu champanhe na virada de mesa e fechou os olhos para a realidade de um clube que tinha tudo para se organizar na segunda divisão e voltar forte outra vez à primeira.
Agora, vemos um dos símbolos mais tradicionais e gloriosos do nosso futebol ser coberto por dupla vergonha: a do favorecimento e a do rebaixamento, rima paupérrima, solução longínqua.

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