São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 1997
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Pizzini parte em busca de seu 'Limite'

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tudo indica que chegou a hora e a vez de Joel Pizzini, 36, entrar no primeiro time do cinema brasileiro. Enquanto seu curta-metragem "Enigma de um Dia" é premiado e aplaudido no exterior (leia abaixo), o cineasta mato-grossense já tem outro trabalho pronto -a video-instalação "Travelling"- e prepara três novos filmes.
O mais ambicioso é o longa-metragem "A Invenção de Limite", recriação ficcional das filmagens do mítico "Limite", dirigido por Mário Peixoto em 1930.
O projeto acaba de ser selecionado para participar, em 14 e 15 de outubro, do 2º Projekt Markt Manheim-Heidelberg (Alemanha), encontro entre realizadores e potenciais produtores europeus.
Os outros brasileiros selecionados foram "Através da Janela", de Tata Amaral, e "Como o Diabo Gosta", de Ruy Guerra.
Enquanto toma fôlego para enfrentar "Limite", Pizzini deve fazer os documentários "Glauces", sobre a atriz Glauce Rocha, e "500 Almas", sobre os índios Guatós, do Pantanal.
O primeiro, que ganhou R$ 40 mil num concurso do Ministério da Cultura, se dará ao luxo de ter como assistente de direção o crítico Jean-Claude Bernardet.
*
Folha - Como é o filme-instalação "Travelling"?
Joel Pizzini - É um trabalho inspirado no poema "As Quatro Gares", de Oswald de Andrade. Será mostrado em quatro telas simultâneas, nas ruínas da fábrica Matarazzo, no projeto Arte-Cidade.
Filmei tudo nas próprias ruínas. Minha idéia é trabalhar as diferentes percepções do tempo nas várias idades do homem.
Folha - Como está a preparação de "A Invenção de Limite"?
Pizzini - Fiz um primeiro tratamento do roteiro, em parceria com a Jane Almeida, e estamos começando a captar recursos. A produtora será Sara Silveira, e o filme será em preto-e-branco, com fotografia de Mário Carneiro.
Fernanda Torres vai ser a atriz Carmen Santos, Leonardo Vilar será o tio do Mário Peixoto. Aramis Trindade é forte candidato a fazer o próprio Mário.
Julia Lemmertz será Taciana Reis, atriz de "Limite". Eu gostaria que Alleyona Cavalli fizesse a outra atriz, Olga Breno. A idéia é filmar no final de 98.
Folha - Como será o filme?
Pizzini - Ele vai acompanhar "Limite" desde sua concepção até seu lançamento no cinema, não necessariamente nessa ordem.
Aliás, começa mostrando a primeira exibição pública de "Limite", quando, segundo Mário Peixoto, o cinema foi apedrejado.
A idéia é mostrar a aventura de um menino que fez um filme na contramão do que se fazia então. Para mostrar a importância de "Limite", haverá um cinejornal falso, em que o mito em torno do filme será dissecado.
Folha - O que está achando da "retomada" do cinema?
Pizzini - Já que ainda não existe um mercado, por que se quer tanto fazer filmes para o mercado? Por que não arriscar mais?
Folha - Como você vê os filmes de seus companheiros de geração que estão estreando no longa?
Pizzini - Acho "Um Céu de Estrelas", da Tata Amaral, um filme muito corajoso. É o que mais me impressionou. "Os Matadores" é extremamente bem dirigido e tem formas criativas de fazer um cinema mais transparente. "Baile Perfumado" tenta também reinventar um código de conhecimento público, que é o do cangaço, misturando linguagens.
Os filmes hoje são mais plurais, não existe mais a hegemonia de um modelo, como na época da Embrafilme. Isso é bom. Mas talvez esteja faltando um pé na tradição do nosso cinema.
Existem filmes brasileiros muito modernos que ainda não foram devidamente assimilados. "São Paulo S.A.", "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", "Noite Vazia", "O Padre e a Moça". Temos muito o que aprender com eles.

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