São Paulo, segunda-feira, 28 de dezembro de 1998
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Zagallo, ora pois

JUCA KFOURI

Em clima de fim de ano, não resta outra alternativa que não a de receber Zagallo de braços abertos.
Esta coluna, aliás, imodestamente se sente até meio responsável pela lembrança lusa, tantas vezes perguntou se não haveria lugar para elle num grande clube do país.
E a Lusa vem crescendo, sem dúvida.
Para quem gosta de desafiar e de desafios, aliás, Zagallo chega com um objetivo nada desprezível: se, como gosta de dizer, entregou a seleção brasileira para Wanderley Luxemburgo em primeiro lugar naquele incompreensível e surrealista ranking da Fifa, eis que recebe a Lusa acostumada a chegar às finais dos campeonatos que disputou nas mãos do competente Candinho.
Nem mesmo o espírito natalino, porém, exime o crítico de observar.
A Lusa fez uma aposta de altíssimo risco.
Seu irmão de sangue, o Vasco, que o diga.
A última passagem de Zagallo num clube, no começo destes anos 90 que se vão, foi um retumbante fracasso.
E o Canindé não tem condição de abrigar elencos de ponta, como São Januário, além de não ter um milésimo da força política.
Zagallo parece mesmo um treinador superado e quem o viu trabalhar com a seleção brasileira na Copa do Mundo da França só fez confirmar tal impressão.
Se trocar o Rio de Janeiro por São Paulo pela primeira vez não deve ser tão assustador para quem, como elle, trabalhou tantos anos no mundo árabe, encarar a nenhuma paciência e os métodos pouco ortodoxos da torcida e da direção lusas é coisa de gente corajosa, destemida mesmo.
E coragem, Zagallo sempre teve, diga-se.
Desde quando assumiu a seleção brasileira de 1970 porque Dino Sani, o primeiro a ser convidado para o lugar de João Saldanha, não se sentia preparado, até em 1994, quando topou buscar o penta, mesmo sabendo que, se não conseguisse, sempre um chato lembraria que ele foi técnico de uma seleção vencedora e de duas perdedoras em Copas de Mundo (1970 contra 1974 e 1998).
Enfim, elle voltou.
E, se conseguir o tão sonhado título paulista para a Lusa, aí sim uns e outros (quem?!) terão de engoli-lo, agora não mais com vinho francês, mas com um da terrinha, que também é ótimo.
E tomara mesmo que Zagallo, nessas alturas de sua vida, não vire apenas piada de português.

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